A Amazônia colombiana se tornou alvo de atenção mundial desde o início de maio, devido ao caso das quatro crianças que ficaram mais de um mês desaparecidas na floresta após a queda de um avião – e que finalmente foram encontradas com vida na última sexta-feira (9).
Entretanto, a exemplo do que ocorre com a Amazônia venezuelana, a porção da floresta localizada em território colombiano (que tem pouco mais de 39 milhões de hectares, o correspondente a menos de 10% do total da área amazônica) não costuma ser tão falada quanto a brasileira.
Entretanto, vem sofrendo uma pressão crescente, que inclusive foi um dos temas da reunião entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Gustavo Petro no final de maio.
As estatísticas e os especialistas ambientais apontam que o
desmatamento aumentou desde o acordo de paz entre o governo da Colômbia e a
guerrilha Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
“O acordo indicou o fim da conservação sob a mira de armas
liderada pelas Farc. Sinalizou o início de novas atividades de uso da terra,
como a pecuária, promovida por cartéis de drogas e grandes latifundiários que
buscam capitalizar a partir de políticas fundiárias mais favoráveis”, apontou
uma reportagem de fevereiro da revista Nature.
Segundo dados do Instituto de Hidrologia, Meteorologia e
Estudos Ambientais (Ideam), em 2016, ano em que o acordo com as Farc foi
assinado, houve um desmatamento de 178.597 hectares, um aumento de 44% em
relação a 2015. Entre 2020 e 2022, foram perdidos 294 mil hectares, o
equivalente a 0,75%, da Amazônia colombiana.
As Farc não mantinham as árvores em pé porque tinham “consciência
ambiental”. Longe disso: o interesse da guerrilha era utilizar a mata cerrada
para se esconder das forças de segurança.
Ao mesmo tempo, as Farc promoviam a deterioração da Amazônia
colombiana de outras maneiras, ao realizar diretamente ou permitir atividades
degradantes para o bioma, como o plantio de coca, mineração ilegal e ataques à
infraestrutura petrolífera que contaminaram rios da região.
Um estudo de 2021, do qual participaram várias organizações ligadas
ao meio ambiente, apontou que hoje a devastação é promovida por grupos armados
ilegais, atores privados e funcionários públicos corruptos.
“Comunidades locais, organizações não governamentais e
instituições estatais que tentam proteger a Amazônia entraram em conflito com
os interesses desses grupos poderosos e, como consequência, tornaram-se cada
vez mais alvos de ataques”, disse Juan Carlos Garzón, pesquisador da Ideas for
Peace Foundation e um dos autores do estudo.
Após o resgaste das quatro crianças indígenas na última
sexta-feira, o pai das duas sobreviventes mais jovens relatou que elas estavam
fugindo de um grupo armado que recruta menores à força e que passou a controlar
a região onde fica a reserva indígena onde vivem, no sul da Amazônia
colombiana.
Pecuária
De acordo com a Nature, a pecuária atualmente é o principal
fator de pressão sobre a floresta, com os plantios de coca exercendo um papel
menor.
“Há evidências de uma conversão recente e explosiva de
florestas para a pecuária fora da fronteira agrícola e dentro de áreas
protegidas desde a fase de negociação do acordo de paz. Em contraste, a coca é
notavelmente persistente, sugerindo que os programas de substituição de
cultivos têm sido ineficazes em impedir a expansão do cultivo nas áreas
protegidas”, alertou a revista.
Um estudo recente do Instituto de Pesquisas Científicas da
Amazônia Sinchi apontou que, se mantidos os patamares atuais de exploração e
destruição da floresta dentro da Colômbia, 2,1 milhões de hectares poderão ser
perdidos até 2040, o equivalente ao estado de Sergipe.
Por outro lado, segundo o Instituto Sinchi, caso seja
adotado um modelo sustentável, com sistemas agroflorestais de produção e
ecoturismo, isso poderia evitar o desmatamento de pelo menos 3,5 milhões de
hectares.
“É mais valioso para a sociedade manter as áreas amazônicas de pé do que permitir o sepultamento de 110 mil hectares por ano [média do desmatamento desde 1990] e depois começar a fazer investimentos públicos para restauração ecológica”, afirmou Uriel Murcia, pesquisador do Instituto Sinchi, ao jornal El País.
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