A Venezuela possui algumas das maiores reservas de petróleo
do mundo. Entretanto, o desastre do chavismo gera com frequência escassez de
combustíveis no país e filas gigantescas em postos de gasolina.
A mais recente crise levou a uma solução inusitada em um
estado venezuelano: sorteios para determinar onde o cidadão deve abastecer seu
veículo. A medida foi adotada este mês em Mérida, estado governado por Jehyson
Guzmán, filiado ao PSUV, partido do ditador Nicolás Maduro.
No sorteio transmitido por emissoras de rádio, são sorteadas bolinhas com números entre 0 e 9. O nome de um posto de gasolina é anunciado, e os carros com placas que terminam com os dois primeiros números sorteados podem ser abastecidos nele; outro posto é mencionado, e os números sorteados a seguir devem procurá-lo; e assim por diante, até que os números acabem. Depois, eles são sorteados novamente, até que todos os postos de Mérida sejam contemplados. Os resultados também são publicados no Instagram.
“As pessoas saem correndo de casa atrás de gasolina [após o
sorteio] para chegar logo às bombas. [Os postos] só abrem até uma ou duas da
tarde e não abrem aos domingos”, disse Dicxon Rodríguez, trabalhador na área de
educação de 40 anos, em entrevista à agência France-Presse, enquanto aguardava
com seu carro em uma fila.
Uma reportagem do Diario Las Américas apontou que os estados
venezuelanos com maior falta de combustíveis são Zulia, Falcón, Bolívar,
Portuguesa, Monagas, Trujillo, Mérida e Lara, com problemas de abastecimento
sendo registrados também em Apure, Aragua e Carabobo.
O jornal El Nacional informou que na Grande Caracas também
há escassez: motoristas relataram espera de até cinco horas em filas em postos
de gasolina.
O chavismo minimiza a crise de abastecimento: na semana
passada, o número 2 da ditadura venezuelana, Diosdado Cabello, declarou que a
gasolina “é um elemento que com certeza vão querer usar constantemente para
gerar uma crise” e culpou os próprios consumidores.
“Você diz: ‘Não há gasolina’, e mesmo que as pessoas tenham
três quartos de tanque, vão querer completar [o tanque com] o quarto de
gasolina que falta”, afirmou.
A verdade é que a produção de petróleo na Venezuela despencou devido à má gestão na estatal PDVSA, à falta de investimentos em manutenção e expansão e à corrupção desenfreada (da qual Maduro sempre se beneficiou, mas que usa como desculpa para resolver disputas políticas, segundo analistas) desde a chegada do chavismo ao poder.
Em 2020, a Câmara Venezuelana do Petróleo afirmou que a
capacidade de refino do país era 80% menor do que a que possuía em janeiro de
1999, mês anterior à posse de Hugo Chávez. O contrabando para Colômbia e Brasil
é apontado como outro complicador. A crise de abastecimento já fez o país
recorrer a importações do Irã e da Argélia.
“A crise da gasolina na Venezuela é um reflexo da destruição da indústria do petróleo; especialmente seu parque de refino. As refinarias de Cardón, Amiay, El Palito e Puerto La Cruz foram demolidas por má gestão e corrupção. [São] 24 anos de destruição de um país”, escreveu no Twitter o ex-deputado Jose Guerra.
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