Após o acordo que pôs fim ao motim do grupo mercenário Wagner na Rússia no último fim de semana, o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, elogiou o aliado Vladimir Putin, que, segundo ele, “encarou uma tentativa de guerra civil e um grave episódio de traição”, mas “saiu vitorioso e trouxe paz à Rússia”.
A declaração do ditador chama a atenção porque a Venezuela tem
um histórico de presença do Grupo Wagner (que opera também na Ucrânia, Síria,
Líbia, Mali, República Centro-Africana e outros países), atendendo a interesses
de Maduro.
No início de 2019, fontes da agência Reuters informaram que
empresas militares privadas ligadas ao grupo mercenário enviaram combatentes
para cuidar da “segurança” do ditador venezuelano, que enfrentava à época
protestos por democracia.
Uma dessas fontes informou que cerca de 400 homens, que
haviam chegado com escala em Cuba, outra aliada da Rússia, estavam na Venezuela
naquele momento. “Nosso pessoal está lá diretamente para sua proteção [de
Maduro]”, disse.
Parte desse contingente teria chegado em 2018, quando Maduro
conquistou a reeleição presidencial num pleito marcado por denúncias de
fraudes.
Outra ajuda que o Grupo Wagner prestou ao ditador foi o
treinamento de unidades de combate de elite venezuelanas.
Além disso, no início de 2022, um relatório da empresa
privada de inteligência militar Grey Dynamics destacou a participação do Wagner
no treinamento de milícias venezuelanas pró-Maduro no estado de Táchira, processo
no qual também estiveram envolvidos as Forças Armadas Revolucionárias da
Colômbia (Farc) e o Exército de Libertação Nacional (ELN), duas guerrilhas
colombianas.
Outro relatório da Grey Dynamics, de 2021, apontou que o Wagner
também atuava na Venezuela junto a outros “especialistas” russos para “proteger
refinarias de petróleo e oferecer segurança pessoal e para entidades comerciais”
da Rússia no país sul-americano. Entre elas, estariam unidades locais da Rosneft,
a gigante estatal de petróleo russa.
“É provável que o papel desempenhado pelos especialistas da
Rússia, sejam eles do Wagner ou não, tenha sido fundamental para fornecer
segurança e diminuir o risco de falência de entidades privadas e estatais
russas”, descreveu a Grey Dynamics.
A mineração é outro foco de atenção do grupo mercenário na
Venezuela. Ainda de acordo com a Grey Dynamics, a presença de tório no Arco
Mineiro do Orinoco atraiu o interesse russo, e o parlamentar venezuelano
Americo de Grazia afirmou em janeiro de 2020 que “o governo de Maduro deu ao
Irã e à Rússia acesso às minas de tório na Venezuela”.
A Grey Dynamics sugeriu que o Grupo Wagner pode estar fazendo a proteção dos pontos onde a Rússia realiza a extração do metal na Venezuela, mas a milícia tem um histórico de atuar diretamente na extração de riquezas em outros países, como a exploração de ouro no Sudão.
O governo do Reino Unido reforçou posteriormente essa
hipótese de envolvimento mais direto.
Em abril do ano passado, Zac Goldsmith, então ministro do
Departamento de Meio Ambiente, Alimentos e Assuntos Rurais, reiterou, em
resposta a um questionamento no parlamento britânico, a informação de que “mercenários
que fazem parte ou são afiliados ao Grupo Wagner realizaram atividades de apoio
ao regime de Maduro” na Venezuela, mas não teriam ficado restritos a esse
papel.
“A mineração ilegal de ouro na Venezuela envolve graves abusos dos direitos humanos em grande escala e está causando danos ambientais e sociais significativos, especialmente na região do Arco Mineiro [do Orinoco]. As empresas militares privadas russas são apontadas como ativas nesta área”, destacou Goldsmith.
“Traidores” ou não, os mercenários do Wagner parecem muito à vontade como convidados da ditadura venezuelana.
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