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Nayib Bukele, o jovem “ditador” mais popular das Américas

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Idealizador do maior presídio do continente americano, com capacidade para 40 mil detentos, o jovem presidente de El Salvador Nayib Bukele acumula popularidade e polêmicas durante os quatro anos à frente da gestão de um dos menores países da América Latina, a ponto de ganhar notoriedade mundial.

Desde a chegada ao poder, seu governo já prendeu 65 mil pessoas com a decretação de um estado de exceção no país, adotou uma moeda digital, defendeu seu “direito divino” no Congresso, destituiu membros da Suprema Corte e decidiu reduzir em mais de 80% o número de cidades salvadorenhas.

Apesar das medidas políticas controvertidas, sua popularidade dentro do país chega a quase 90%, de acordo com as pesquisas de opinião. Isso se deve, principalmente, pela campanha de combate às gangues de ruas que controlavam o país.

Dados oficiais apontam que os índices de violência em El Salvador passaram de 38 mortes a cada 100 mil habitantes, em 2019, para 7,8 mortes em 2022. Um feito e tanto para o pequeno território da América Central, que estava entre os dez países mais violentos do mundo, se acordo com um relatório elaborado pela ONU.

Essa redução da criminalidade está relacionada ao decreto de Bukele, de setembro de 2022, que suspendeu direitos constitucionais dos cidadãos após o registro de 87 mortes em dois dias.

Sem a necessidade de ordem judicial, a medida resultou em milhares de prisões no período de um ano e colocou o país em primeiro lugar na lista das maiores taxas de encarceramento do mundo, proporcionais à população, de 600 presos a cada 100 mil habitantes, segundo dados da organização britânica World Prison Brief.

Em um episódio mais recente de maio deste ano, Bukele afirmou em suas redes sociais que o país ficou sem registro de homicídio por 365 dias, desde que foi eleito presidente. Os números não se referem a um ano completo, mas à quantidade de dias somados sem ocorrências de mortes por assassinato.

Organizações internacionais de defesa aos direitos humanos, no entanto, denunciam detenções ilegais no país e condições precárias de encarceramento.

Um relatório feito pela ONG Cristosal aponta a ocorrência de torturas, abusos e assassinatos desde o início do regime de exceção. Os números sugerem que mais de 150 pessoas foram mortas sob custódia do governo.

Menos municípios

Além do combate à criminalidade, outras ações marcam o governo do autodeclarado “ditador” no Twitter. A mais recente é a proposta da Lei Especial de Reestruturação Municipal, retificada em junho, que prevê a redução de 83% das cidades salvadorenhas.

O documento possui 13 artigos e deve entrar em vigor em maio de 2024, meses após as próximas eleições gerais. Com a nova organização administrativa, o país contará com 44 prefeitos, 44 curadores e 372 vereadores.

Entre as justificativas apresentadas pelo chefe de Estado estão a desburocratização da gestão pública, a melhoria na prestação de contas, o combate à corrupção e economia ao Estado.

Para a oposição política a Bukele, a iniciativa é vista com “maus olhos”. Segundo os legisladores, que rejeitam a proposta, o presidente deseja a modificação administrativa do Estado para acumular mais poderes e facilitar a aprovação de seus projetos.

Presidente autoritário? 

Nayib Bukele começou a ser visto como antidemocrático após suas polêmicas atuações contra a Suprema Corte.

Em 2020, com menos de um ano de governo, ele invadiu o legislativo com apoio de militares e afirmou seu “direito divino”, após a rejeição de um empréstimo milionário pelo Parlamento para investir em seu plano de segurança no país.

A ação causou a primeira crise de seu governo e foi considerado um “autogolpe de Estado” pela oposição política e organizações democráticas internacionais. Ele ainda convocou seus apoiadores populares para cercarem o Congresso em sua defesa.

Outra situação que virou os holofotes midiáticos para El Salvador aconteceu em 2021, quando o presidente, com o legislativo controlado por seus aliados, destituiu um terço dos 690 juízes do país, além de dezenas de promotores, após aprovação da Lei da Carreira Judicial. Essa ação foi questionada pela ONU e pelos Estados Unidos, que defenderam o respeito à tripartição dos poderes.

Moeda digital 

Além do conflito político dentro de El Salvador, uma nova decisão do governo atingiu o mercado econômico mundial. Em setembro de 2021, durante a efervescência política, Bukele decidiu adotar a moeda digital Bitcoin como oficial no país.

De acordo com levantamento da Bloomberg, o país comprou cerca US$ 108 milhões de dólares (aproximadamente R$ 510 milhões), no entanto a circulação da moeda não vingou e, hoje, os bitcoins adquiridos valem em torno de US$ 77 milhões (R$ 360 milhões).

Apesar de tudo 

Um levantamento recente feito pela agência Digitips, divulgado pela BBC News Brasil, mostra que Bukele é hoje o governante mais seguido no TikTok, com 6,4 milhões de seguidores, seguido de Lula (4,4 milhões) e Macron (3,9 milhões), da França.

Por um lado, pesquisas de opinião e dados levantados pelo próprio Estado apontam uma aceitação popular ao governo. Por outro, o líder é denunciado por organizações devido à violência institucionalizada e desrespeito à divisão dos poderes.

Novo mandato 

No início do mês, o Partido Governista de El Salvador realizou eleições internas para decidir quem seria pré-candidato ao governo nas eleições gerais que acontecem em 2024 e recebeu apenas a candidatura única do atual presidente Nayib Bukele.

Segundo a Constituição do país, ele não poderia concorrer a um novo mandato, devido ao atual exercício. Apesar disso, o chefe de Estado afirmou que pretende se candidatar ao novo pleito, que deve contar com mais reformas que o permitam se manter no cargo.

Com a popularidade do governo e pouca força política da oposição, a expectativa de permanência no poder é alta.

FONTE: Gazeta do Povo