Portal Paraíba-PB

Informação com credibilidade!

Ditadura da China interfere em assuntos internos da Igreja

Ícone Notícias

Em 2016, o ditador chinês, Xi Jinping, afirmou que “grupos
religiosos devem aderir à liderança do Partido Comunista” da China (PCCh). Coerente
com essa visão, a ditadura comunista promove uma grande perseguição a
religiosos e comunidades que apenas buscam praticar sua fé – um dos casos mais
extremos é o genocídio dos uigures, minoria muçulmana da região de Xinjiang.

Contra a Igreja Católica, a repressão também é intensa. Um
dos casos recentes mais notórios foi a prisão, no ano passado, do cardeal
Joseph Zen, por associação a uma entidade que ajudava financeiramente os
manifestantes dos protestos por democracia em Hong Kong.

Entretanto, para o PCCh, não basta perseguir católicos: o
regime comunista também interfere em assuntos internos da Igreja na China.

Este mês, o papa Francisco decidiu aprovar a nomeação do novo
bispo de Xangai, Joseph Shen Bin, que havia sido designado pelas autoridades
chinesas em abril, sem a aprovação do Vaticano.

O cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, comentou,
em declarações reproduzidas pela Catholic News Agency, que Francisco buscou
“remediar a irregularidade canônica criada em Xangai, em vista do bem maior da
diocese e do exercício frutífero do ministério pastoral do bispo”. Também
argumentou que a cidade estava sem bispo há mais de dez anos.

Ao contrário do que acontece em países democráticos, onde governos
nacionais não interferem em procedimentos internos da Igreja, um acordo
provisório entre Santa Sé e Pequim estabelecido em 2018 estipula que a China
indique bispos antes de serem nomeados pelo papa, e este, em tese, tem a
palavra final. Na prática, mesmo esse acordo, renovado em 2020 e em 2022, não
tem sido respeitado pela China.

O caso de Shen Bin foi a segunda violação do compromisso em
menos de um ano: em novembro, as autoridades chinesas haviam nomeado John Peng
Weizhao como bispo auxiliar de Jiangxi, uma diocese que não é reconhecida pelo
Vaticano.

Apesar dessas manifestações de desrespeito, Parolin disse
que a Santa Sé segue “determinada” a manter diálogo com a China. “De fato, o
diálogo entre o lado do Vaticano e o lado chinês continua aberto e acredito que
seja um caminho de certa forma obrigatório”, argumentou o cardeal.

Shen Bin é presidente do Conselho dos Bispos Chineses, entidade
vinculada ao governo chinês e não reconhecida pelo Vaticano. A Santa Sé quer uma
conferência episcopal tradicional na China e o estabelecimento de um contato
regular entre os bispos chineses e o papa.

Em maio, funcionários regionais do PCCh visitaram a diocese
de Xangai e foram recebidos por Shen Bin. Qian Feng, um dos representantes do
partido, pediu aos católicos da cidade adesão a um projeto de “sinização”
(acomodação a ideais culturais chineses) da religião e uma “orientação” rumo ao
socialismo.

“Ao mesmo tempo, devemos nos concentrar em dois temas principais,
unidade e democracia, unir e orientar a maioria dos fiéis religiosos para
avançar em uma nova jornada, construir uma nova era, construir consenso e
reunir forças para o desenvolvimento de alta qualidade da sociedade econômica
de Xangai e vários empreendimentos”, disse Feng, segundo reportagem do site
Union of Catholic Asian News.

O Vaticano não tem laços diplomáticos com a China: a Santa
Sé é um dos poucos Estados no mundo que reconhecem Taiwan.

Aparência das igrejas irrita ditadura chinesa

Além dessa interferência, Xi Jinping quer mandar na aparência das igrejas católicas na China. Como parte da mencionada campanha de sinização, que também atinge lugares sagrados de outras religiões, igrejas estão tendo que passar por adequações.

No seu mais recente relatório sobre liberdade religiosa, a organização Ajuda à Igreja que Sofre (ACN, na sigla em inglês), que colocou a China na classificação “perseguição”, destacou o caso da Igreja do Sagrado Coração em Yining, na região de Xinjiang.

Embora a igreja possua todas as autorizações exigidas pela
Administração para Assuntos Religiosos da China – até mesmo funcionários do
distrito de Yili e autoridades de Yining compareceram à inauguração, no ano
2000, e elogiaram a construção –, em 2018, o Gabinete de Assuntos Religiosos promoveu
uma série de mudanças na edificação.

Foram desfigurados quatro baixos-relevos da fachada, estátuas de São Pedro e São Paulo foram removidas, a cruz que adornava a cúspide do tímpano foi arrancada e as duas cúpulas e as torres com os sinos foram destruídas por serem “muito vistosas”.

Em fevereiro de 2021, as autoridades locais chegaram a determinar a destruição da igreja, mas voltaram atrás após uma reportagem do site Asia News denunciar a ameaça.

FONTE: Gazeta do Povo