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Santiago Peña chega ao poder no Paraguai como aliado de Taiwan

O economista Santiago Peña se tornará nesta terça-feira (15) o 51º presidente do Paraguai, com a promessa de que o país continuará sendo o único da América do Sul a manter relações diplomáticas com Taiwan e com o desafio de negociar com o Brasil o tratado que estabeleceu as bases para a construção e exploração conjunta da usina hidrelétrica binacional de Itaipu, na fronteira entre os dois países.

Economista de profissão e reconhecido como ex-ministro da Fazenda, Peña, de 44 anos, foi eleito novo presidente paraguaio em abril deste ano. Em julho, ele visitou Taipé, capital de Taiwan, acompanhado de sua equipe econômica, em um sinal claro do interesse da nova gestão em aprofundar os laços com a ilha, celebrando 66 anos de amizade comum.

“Viemos transmitir ao povo de Taiwan a nossa determinação em estar próximos dele”, disse o futuro presidente paraguaio ao chegar ao país, recordando que há duas décadas tinha viajado para a ilha como estudante.

Peña, sem fechar a porta para uma relação com a China, se concentrou na agenda econômica e política com Taiwan, ao contrário dos seus parceiros do Mercosul, bloco que inclui Paraguai, Brasil, Argentina e Uruguai, que já flertaram individualmente com o gigante asiático.

Anexo C de Itaipu

O Brasil será um dos primeiros desafios do presidente Santiago Peña, cujo governo terá de negociar a revisão dos acordos do tratado que instituiu a Usina de Itaipu, a maior da América e a segunda maior do mundo.

Cinquenta anos após a assinatura do documento de fundação, um dos pontos a serem revistos é o Anexo C, segundo o qual Brasil e Paraguai têm direito a 50% da energia gerada pela hidrelétrica.

O trecho estabelece que o país que não utilizar totalmente a sua cota deve vender o excedente ao parceiro a preços preferenciais. No entanto, a aspiração do Paraguai tem sido obter melhores preços para a venda de sua energia. Atualmente, o país consome apenas 15% da energia produzida pela hidrelétrica a que tem direito e vende a maior parte do excedente para o Brasil.

Em entrevista à Agência EFE em junho, o futuro ministro das Relações Exteriores, Rubén Ramírez, afirmou que não há urgência nem prazo para concluir a negociação.

“Para nós, Itaipu é o principal ativo da República do Paraguai”, disse Ramírez na ocasião, quando esclareceu que não se pode “concentrar toda a agenda rica, ampla e extensa e relativizá-la com Itaipu”.

Consultada pela EFE, a historiadora Milda Rivarola considerou que essa negociação não é “apenas” sobre o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas sobre o Itamaraty, que ela descreveu como “o Ministério das Relações Exteriores mais poderoso da América do Sul”.

“A proposta brasileira é: ‘toda a dívida foi paga (pela construção de Itaipu), a energia será mais barata'”, explicou a especialista, que indicou que “isso já começou este ano”, sem passar por uma “revisão”, mas sim por uma decisão do país vizinho.

Mercosul e União Europeia

Da mesma forma, Peña herdará as negociações para selar um acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE).

O Paraguai e seus parceiros do Mercosul expressaram reservas sobre as condições ambientais previstas pelos governantes europeus, em um momento em que a relação entre Assunção e Bruxelas é marcada por um debate legislativo que visa revogar um acordo de cooperação europeia sobre educação no país.

Ramírez disse à EFE que o futuro governo está preocupado com “a incorporação de novos elementos, como as questões ambientais, que desequilibram o tratado” depois que um acordo político foi alcançado em princípio em 2019, após duas décadas de negociações entre os dois blocos.

Neste contexto, Rivarola previu um cenário internacional “bastante complexo” para o próximo governo, que também terá de lidar com as sanções impostas pelo governo dos Estados Unidos ao ex-presidente Horacio Cartes, considerado o mentor político de Peña, e a quem acusa de envolvimento em atos de corrupção antes, durante e depois do seu mandato como presidente do Paraguai.

O Paraguai “vai ser a pedra no sapato do Mercosul porque não quer um tratado com a União Europeia, mas também não pode ter um tratado com a China continental”, com a qual não tem relações, acrescentou a especialista.

FONTE: Gazeta do Povo