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Omitidos das estatísticas, roubos de encomendas dobraram em Nova York

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Políticos progressistas e seus apoiadores na mídia têm comemorado as recentes estatísticas criminais da cidade de Nova York. É verdade que os tiroteios e assassinatos diminuíram, embora não tenham voltado aos níveis pré-pandemia. De qualquer forma, o prefeito Eric Adams e o Departamento de Polícia merecem crédito por combater as gangues e outros grupos conhecidos por cometer a maioria dos crimes com armas de fogo na cidade.

No entanto, devemos encarar grande parte dos outros dados criminais de Nova York com uma pitada de ceticismo e até mesmo de desconfiança. Afinal, a maioria dos nova-iorquinos concordaria que o crime nas ruas, a violência arbitrária e a hostilidade em geral estão seguindo na direção errada.

Os dados do Compstat [sistema de computação e quantificação de informações criado e utilizado pelo Departamento de Polícia de Nova York] podem até mostrar que os furtos em lojas estão diminuindo. Mas, se isso for verdade, por que tantos estabelecimentos estão trancando tudo o que não pode ser pregado no chão?

E quantas vítimas de assaltos ou agressões consideradas “menores” simplesmente decidiram que não vale a pena o incômodo de registrar um boletim de ocorrência policial – já que o criminoso, caso seja pego, provavelmente sairá impune?

Porém, é difícil fazer esses argumentos prevalecerem quando políticos irresponsáveis (os mesmos que exigem a redução de recursos para a polícia e o fechamento das prisões) insistem que a impunidade criminal oficialmente sancionada não apenas coexiste com a segurança pública, mas também contribui para a melhoria de seus índices.

O problema é que não há uma
lista de crimes não reportados. Tudo indica que a situação está piorando, mas
onde estão os dados que comprovam que os levantamentos oficiais estão errados
ou incompletos?

Um relatório do Departamento de Transporte de Nova York não chega a contrariar o Compstat, mas certamente levanta questões sobre o que as autoridades estão informando sobre o crime. Recentemente, o órgão anunciou que a cidade começaria a instalar armários nas calçadas para que a Amazon e outras empresas pudessem deixar pacotes para os clientes que não dispõem de porteiros ou outros meios de entrega segura.

Na ocasião, o prefeito Adams e o comissário do departamento, Ydanis Rodriguez, enfatizaram que o mobiliário aliviaria o congestionamento e reduziria a “poluição insalubre”. Mas ambos reconheceram que o principal problema, e a razão emergente para a criação do programa, são os roubos – que o prefeito classificou como “desenfreados”.

Mas desenfreados até que ponto? De acordo com uma nota divulgada pelo Departamento de Transporte, 80% das residências em Nova York recebem pelo menos uma encomenda por semana, e 20% recebem quatro ou mais, totalizando em média 2,3 milhões de entregas por dia. Desse montante, 90 mil pacotes são relatados como perdidos ou roubados em trânsito na cidade, segundo o órgão.

Esse número é de 2019 – antes da pandemia, do lockdown, do aumento concomitante na atividade de entrega e do crescimento da criminalidade. Os números atuais provavelmente são muito maiores, pois os relatos de “pacotes perdidos ou robados” dobraram em 2020. Então o número real poderia estar mais próximo de 200 mil.

É difícil saber quantos
pacotes são perdidos em vez de roubados, embora as empresas afirmem que
etiquetas de envio soltas, que acabam caindo, geralmente sejam a causa das
perdas. Grandes varejistas usam etiquetas de alta qualidade, então é seguro
presumir que a maioria de seus envios chega com segurança.

Mas mesmo que metade dos pacotes seja “perdida em
trânsito”, o que certamente é uma estimativa exagerada, 45 mil roubos
todos os dias é uma quantidade enorme – e quase nenhum desses furtos parece ser
registrado nas estatísticas oficiais.

O crime de roubar um pacote em
Nova York ( deixando de lado as acusações federais de roubo de correspondência)
normalmente seria registrado como furto simples.  Ou seja, roubo de itens com valor menor de US$1
mil (R$ 4,95 mil na cotação atual).

A maioria dos roubos em lojas, por exemplo, enquadra-se na categoria de furto simples. De acordo com o Compstat, os números da cidade de Nova York em 2023 são positivos até o momento – os furtos simples diminuíram 2,5% em relação a 2022. E, até a primeira semana de julho, foram registrados 56, 6 mil crimes desse tipo, contra 58 mil no ano passado.

Mas repetindo: de acordo com o Departamento de Transporte,
pelo menos 90 mil pacotes são roubados (ou perdidos) em Nova York todos os
dias. Entre qualquer segunda-feira e o horário do almoço do dia seguinte, mais encomendas
são roubadas do que furtos simples são registrados pela polícia em um ano
inteiro.

O Departamento de Polícia não inclui pacotes roubados em uma categoria separada. Portanto, está claro que milhões de roubos reais estão ocorrendo na cidade a cada ano — são perdas reais, inconvenientes reais e criminalidade real. Algo que deveríamos ponderar quando ouvimos as boas notícias recentes sobre o crime em Nova York.

© 2023 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês: New York’s Incomplete Crime Picture
Conteúdo editado por:Omar Godoy

FONTE: Gazeta do Povo