Sergio Massa, de 51 anos, é o atual ministro da Economia da Argentina e também candidato à presidência do país pela coalizão governista União pela Pátria, que nesta eleição representa o peronismo.
Para alguns analistas, Massa é o representante mais “moderado” do peronismo que atualmente comanda a Argentina. Ele se apresenta como uma alternativa progressista que quer buscar uma solução para os desafios econômicos que assolam o país sul-americano, agravados pelo atual governo de seu chefe, o presidente Alberto Fernández.
Com um histórico político marcado por reviravoltas e alianças políticas estratégicas, Massa emergiu como uma figura central na atual cena política argentina. O ministro não é o candidato dos sonhos da atual vice-presidente Cristina Kirchner, mas conta com o apoio de Fernández e conseguiu unir algumas das frentes progressistas do país em torno de seu nome.
História
Nascido em 28 de abril de 1972, em San Martín, na província de Buenos Aires, Sergio Massa trilhou um caminho político singular, que o levou de militante no partido de centro-direita Unión del Centro Democrático (UCeDe) para se tornar uma das figuras proeminentes da ala progressista argentina. Formado em direito pela Universidade de Belgrano, Massa acumulou uma vasta experiência em cargos públicos, que vão desde assessor parlamentar até a posição de chefe da Administração Nacional da Previdência Social argentina (Anses).
A
virada política de Massa ocorreu quando ele se aproximou do movimento
kirchnerista, liderado pelo ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007) e sua
esposa, Cristina Kirchner. Ele rapidamente ascendeu na hierarquia política, chegando
a ser eleito deputado federal e posteriormente assumindo como chefe do Gabinete
de Ministros do governo de Cristina (2007-2015).
Nesse período, Massa também foi eleito prefeito de Tigre, cidade localizada na região metropolitana de Buenos Aires, em 2007, mas se licenciou do cargo em 2008 para poder assumir a chefia de gabinete da presidência.
Seu relacionamento com o kirchnerismo começou a desmoronar em 2009, quando Massa teve sérios desentendimentos com a então presidente Cristina Kirchner após o vazamento de conversas em que ele chamava o marido dela, Néstor, de “psicopata, monstro e covarde”. Por causa disso, ele deixou o cargo de chefe do Gabinete de Ministros no mesmo ano, retornando ao cargo de prefeito de Tigre.
A partir desse momento, Massa começou a trilhar o seu próprio caminho longe do kirchnerismo, com o qual rompeu vínculos em 2013, fundando posteriormente o seu próprio partido, Frente Renovadora, e se tornando um opositor destacado de Cristina.
Em 2015, ele lançou sua primeira candidatura presidencial pela coalizão Unidos Por uma Nova Alternativa e acabou conquistando o terceiro lugar no primeiro turno. No segundo turno das eleições, Massa não apoiou o candidato representante do peronismo e do kirchnerismo, Daniel Scioli. Naquele momento, ele acenou em diversas entrevistas, ainda que discretamente, sua preferência pelo candidato da oposição Mauricio Macri, que foi o vencedor das eleições.
No momento em que decidiu apoiar Macri, ainda que veladamente, ficou destacada a habilidade do atual ministro em conseguir transitar entre os diferentes espectros políticos do país. Sua flexibilidade estratégica, no entanto, lhe rendeu críticas da ala progressista e peronista “raiz”, que em sua maioria acusou Massa de oportunismo.
Com o passar do tempo, Massa passou a criticar Macri, destacando suas discordâncias com as medidas econômicas adotadas pelo então presidente. Ele então começou novamente a se aproximar do kirchnerismo, e já na última corrida presidencial de 2019 voltou a se unir a Cristina Kirchner na coalizão Frente de Todos, liderada por Alberto Fernández, que saiu vitoriosa e derrotou Macri, que disputava a reeleição.
Em dezembro de 2019, já eleito deputado pela província de Buenos Aires, Massa se tornou presidente da Câmara dos Deputados, cargo que ocupou até agosto de 2022. Nesse período, ele teve papel crucial na aprovação de leis como a legalização do aborto até 14 semanas e a lei do imposto sobre as grandes fortunas.
Chegada ao Ministério da Economia
Sergio Massa chegou ao cargo de ministro da Economia em agosto de 2022. Sua nomeação veio em um momento turbulento, quando a Argentina enfrentava uma das piores crises econômicas de sua história, agravada pela falta de ação de Fernández e pelos efeitos da pandemia de Covid-19 e da guerra na Ucrânia.
Massa chegou
ao comando da pasta após dois ministros pedirem demissão por divergências com a
vice-presidente Cristina Kirchner sobre o rumo da política econômica.
Ele assumiu um “superministério” da Economia, que foi unificado a outros dois: o de Desenvolvimento Produtivo e o da Agricultura, Pecuária e Pesca, com o desafio de reativar a economia argentina, que sofria com a inflação alta, a falta de investimento público, o déficit fiscal, o endividamento externo e o descontrole cambial. Ele também tinha a dura missão de negociar com o Fundo Monetário Internacional (FMI) uma reestruturação da dívida do país.
No entanto, sua gestão não conseguiu reverter os problemas econômicos da Argentina. Um ano após ele assumir a pasta da Economia, a divida externa argentina continua a mesma, os altos índices de inflação seguem atormentando a população, a elevação de preços ainda é um problema e a pobreza agora atinge 38% dos argentinos. Além disso, o superávit comercial diminuiu e as reservas internacionais líquidas se esgotaram. No dado mais recente sobre inflação, a Argentina alcançou uma inflação interanual de 113%.
Alinhado a esses problemas, Massa também enfrenta resistências dentro do próprio governo, especialmente da ala kirchnerista, que defende mais gastos públicos e intervenções estatais.
Propostas para um eventual governo
Nas eleições primárias realizadas no último domingo (13), a coalizão de Massa foi a terceira mais votada (27% dos votos) e ele venceu Juan Grabois, seu adversário na disputa interna do peronismo, com 21% dos votos. O resultado consolidou sua posição de candidato que sairá como o representante do União para Todos nas eleições do dia 22 de outubro.
Um dos principais focos do plano de governo de Massa é a educação. Ele quer a inclusão obrigatória de cursos voltados para a programação e robótica no ensino médio.
O
candidato do peronismo considera fundamental acompanhar essa iniciativa com um
programa de inserção no mercado de trabalho que permita aos jovens adquirir
habilidades relevantes para o mundo contemporâneo e facilitar sua transição
para o emprego formal.
Em um país onde a taxa de desemprego está em torno de 6,9% e mais de um terço dos trabalhadores assalariados atuam na informalidade, Massa visa atenuar o problema com a simplificação tributária para pequenas e médias empresas.
A segurança pública é outro tema destacado em seu plano de governo: o candidato planeja combater a insegurança, o crime e o tráfico de drogas por meio de investimentos em sistemas de prevenção e inteligência.
Massa também quer combater a corrupção na Argentina e alega que o seu bom relacionamento com membros do governo dos Estados Unidos é um trunfo para aumentar o combate à lavagem de dinheiro.
Para a economia, o candidato do peronismo apresenta um plano de governo fundamentado em quatro pilares que classifica como essenciais para enfrentar os desafios econômicos da Argentina: o equilíbrio fiscal, o superávit comercial, o câmbio competitivo e o desenvolvimento com inclusão.
Em
entrevista ao Canal 5 Argentina, Massa enfatizou a importância desses pilares
para promover a distribuição de renda, fortalecer a educação pública e
estimular o investimento em universidades. No entanto, ele também reconheceu
que a estabilização da economia é uma condição prévia para a implementação
bem-sucedida dessas medidas.
O plano de Massa busca resolver a escassez de divisas, um desafio crítico para a Argentina devido à falta de dólares para importações, pagamento da dívida e poupança dos cidadãos. Ele almeja alcançar um superávit comercial por meio da potencialização das exportações, com foco no setor energético, que inclui o investimento na mineração de lítio, além do fortalecimento do setor agrícola. A finalização do gasoduto Néstor Kirchner é vista por Massa como parte integrante desse esforço, buscando substituir importações pela produção nacional.
O FMI prevê
uma queda de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) da Argentina esse ano, o
que implica a necessidade de um ajuste fiscal. Massa reiterou seu compromisso
de pagar integralmente a dívida com o FMI, de US$ 45 bilhões, com o objetivo de
evitar a interferência do organismo nas políticas econômicas do país.
Para
colocar em prática seu “desenvolvimento com inclusão”, Massa se compromete em
recompor os rendimentos dos trabalhadores, cujos salários sofreram reduções
significativas nos últimos anos. Para isso, ele quer buscar parcerias com o
setor industrial para estimular o emprego e reduzir a informalidade.
Em relação ao câmbio, Massa acredita que a Argentina deve caminhar em direção à unificação cambial a longo prazo, que envolve estabelecer uma única taxa de câmbio para sua moeda nacional em todas as transações internacionais. No entanto, neste momento, devido à escassez de moedas internacionais, principalmente do dólar, ele reconhece a necessidade de impor restrições temporárias ao livre acesso às moedas estrangeiras como uma forma de proteger as reservas cambiais do país e lidar com as circunstâncias econômicas atuais.
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