Desde que Israel declarou guerra ao Hamas, após o massacre dentro de seu território no dia 7 de outubro, outras milícias islâmicas se uniram ao grupo terrorista em uma série de ataques contra o país. A principal delas foi o Hezbollah, no Líbano, que atua na fronteira norte israelense e tem ameaçado uma escalada do conflito.
Além dos terroristas libaneses, outro grupo rebelde surge além das fronteiras com Israel: os houthis, uma organização radical xiita, que atualmente controla parte do Iêmen, incluindo a capital Sanaa, localizada a mais de 2 mil quilômetros de Jerusalém.
No início do mês, o porta-voz militar do grupo, Yahya Saree, confirmou em um anúncio televisionado que os rebeldes lançaram um “grande número” de mísseis balísticos e drones contra Israel e continuariam a bombardear o país “para ajudar os palestinos a vencerem” o conflito.
Depois disso, um segundo bombardeio ocorreu, quando os milicianos iemenitas reivindicaram um ataque múltiplo com mísseis balísticos em vários pontos da cidade de Eilat, no sul de Israel, logo após o Exército israelense interceptar um míssil terra-terra na área do Mar Vermelho.
Mais recentemente, nesta terça-feira (14), os rebeldes anunciaram um novo plano de atacar navios israelenses que navegam em águas adjacentes às do Iêmen.
“Planejamos operações adicionais para atingir alvos sionistas em qualquer outro lugar e não hesitaremos em fazê-lo no Mar Vermelho, particularmente em Bab al Mandab. Nossos olhos estão abertos, constantemente observando e procurando por qualquer navio israelense”, afirmou o líder rebelde houthi, Abdul-Malik al-Houthi, em comunicado na televisão local.
Durante o discurso, Al-Houthi também pediu aos países entre o Iêmen e a Faixa de Gaza para abrirem passagem para os combatentes iemenitas passarem com o objetivo de enfrentar o Exército de Israel.
“Pedimos aos países que nos separam geograficamente da ‘Palestina’, nem que seja para testar nossa credibilidade, que abram uma passagem terrestre apenas para que nosso povo possa chegar à região”, afirmou a liderança anti-Israel.
Quem são os houthis
A milícia houthi surgiu na década de 1990, vinculada ao movimento político-religioso Ansar Allah (“Partidários de Deus”, em tradução livre), no extremo norte do Iêmen, com um ideal que buscava revitalizar o zaidismo, uma vertente do islamismo xiita.
O nome que o grupo carrega vem de Hussein Badr al Din al Huti, líder da primeira revolta do grupo, em 2004, na região de Sadá. Os rebeldes buscavam nesse período maior autonomia para a região onde viviam e mantinham os ideias zaiditas.
Até 2015, os zaidistas representavam um terço da população e governaram o Iêmen do Norte. Em 1990, houve a unificação e implantação da República Árabe, que juntou o Iêmen do Norte e do Sul.
À época, o país era dominado por guerrilhas que travaram uma série de embates com o exército nacional e com a fronteiriça Arábia Saudita, país de maioria muçulmana sunita, por divergências religiosas e territoriais.
Em 2004, soldados iemenitas mataram Hussein Huti e sua família assumiu o controle do movimento, liderando uma maratona de rebeliões até que um cessar-fogo foi firmado com o governo de Ali Abdullah Saleh, em 2010.
No ano seguinte, o país enfrentou uma grave crise política em meio à Primavera Árabe, que culminou em protestos no país e outras partes do Oriente Médio.
Apesar do Iêmen ser rico em petróleo, quase metade da população vive abaixo da linha da pobreza, com menos de US$ 1 por dia, segundo dados do Banco Mundial e do FMI.
O Escritório das Nações Unidas de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) estima que três quartos da população do país necessita de algum tipo de assistência e proteção. Assim, a ONU classificou a crise no Iêmen como um “desastre humanitário”.
O movimento da Primavera Árabe chegou ao Iêmen atingindo o governo de Saleh (1978-2012), que acabou sendo deposto. Essa mobilização política foi um ponto central para expandir o controle territorial nas províncias de Sadá e Amran por parte dos houthis, que ganharam mais força regional nesse período.
Após a deposição de Saleh, o controle do país passou para seu vice-presidente, Abd Rabbuh Mansur Al-Hadi, da vertente sunita. Esse fato despertou insatisfação dos xiitas e uma série de conflitos foram iniciados.
Em julho de 2011, os houthis, apoiados pelo principal partido sunita islâmico do país, o Islah, derrotaram grupos tribais e outras milícias na província de Amran. Nos próximos anos, os rebeldes foram ganhando espaço político e territorial no Iêmen.
Como consequência, em julho de 2014, os houthis deram início a um plano para controlar a capital Sanaa. Em setembro do mesmo ano, os rebeldes conquistaram o controle da cidade e, quatro meses depois, se apoderaram do Palácio Presidencial.
A invasão levou o então presidente a fugir para Áde, uma cidade que fica ao sul do país. Desde então, os houthis controlam a sede do governo com o uso da violência e tentam administrar as demais regiões do Iêmen.
No entanto, o norte do país tem sido marcado nos últimos anos por uma série de conflitos com separatistas, que rejeitam o golpe de Estado.
A mais recente ação que colocou o grupo rebelde em evidência foi a entrada na guerra contra Israel. O lema defendido pelos houthis é “morte à América, morte a Israel e maldição para os judeus e vitória ao Islã”. Com isso, no último mês, a milícia se uniu ao Hamas na guerra regional.
Os houthis integram o Eixo da Resistência, uma aliança regional liderada pelo Irã, que busca a destruição do Estado de Israel e dos Estados Unidos. Apesar das acusações de parceria entre os países, o regime iraniano segue negando a existência do acordo.
Além do movimento xiita que tomou o poder no Iêmen, o Estado Islâmico e a Al Qaeda possuem bases na região.
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