Pequeno país do Golfo Pérsico, o Catar se tornou um dos
protagonistas da guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas pela sua intermediação
para a libertação de reféns e entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza.
O ápice dessa atuação ocorre no momento, com a trégua temporária no conflito e a troca de reféns israelenses por presos palestinos encarcerados em Israel.
“Agradeço ao xeique Tamim bin Hamad Al-Thani, [emir d]o
Catar, e ao presidente Abdel-Fattah El-Sisi, do Egito, pela sua liderança e
parceria decisivas na concretização deste acordo”, declarou o presidente
americano, Joe Biden.
O Catar vem sendo um agente cada vez mais importante para negociações entre antagonistas em temas do Oriente Médio – em setembro, já havia intermediado a negociação para a libertação de cinco americanos presos no Irã.
O pequeno país faz jogo duplo: embora acene para Israel e o
Ocidente (abriga a maior base militar dos Estados Unidos na região), também oferece
apoio a grupos terroristas.
Membros da cúpula do Hamas, como Ismail Haniyeh, presidente do diretório político do grupo, moram no Catar, onde mantêm um escritório político em Doha.
Desde 2014, o Catar enviou centenas de milhões de dólares para
Gaza, o que incluiu ajuda para pagar funcionários do governo do Hamas.
Porém, foi justamente esse papel dúbio que fez o Catar
manter diálogo com os vários lados na negociação para a libertação dos reféns.
“O Catar tem uma vantagem que os outros candidatos à
negociação não têm: abriga a liderança política do Hamas”, disse Hasni Abidi,
diretor do Centro de Estudos e Pesquisa sobre o Mundo Árabe e o Mediterrâneo,
em entrevista à France-Presse.
Esse protagonismo contraditório (e eticamente indefensável) incomoda
Israel, o Ocidente e vizinhos. Entre junho de 2017 e o início de 2021, países
da Liga Árabe, liderados pela Arábia Saudita, cortaram laços diplomáticos e
econômicos com o Catar devido ao seu apoio a grupos terroristas e também
questionaram as relações de Doha com o Irã.
No final de outubro, o jornal americano Washington Post informou que o Catar fez um acordo com os Estados Unidos para rever suas relações com o Hamas, o que ocorreria após a libertação de todos os reféns que o grupo terrorista mantém na Faixa de Gaza.
Segundo o Post, tal acordo teria sido estabelecido durante uma
viagem a Doha do secretário de Estado americano, Antony Blinken, quando
conversou com o emir Al-Thani. Apesar da pressão crescente, muitos
especialistas não acreditam que o Catar esteja interessado em se livrar da sua
postura ambivalente tão cedo.
“Winston Churchill certa vez descreveu a Rússia como uma charada
envolta num mistério dentro de um enigma. O Catar está perto de merecer o mesmo
epíteto”, afirmou Neville Teller, correspondente no Oriente Médio do jornal Eurasia
Review, em artigo publicado esta semana no Jerusalem Post.
“Todos fizeram vista grossa para os seus amigos e alianças
questionáveis nos mundos jihadista e terrorista, uma vez que são precisamente
estas relações que fazem do Catar um contato tão valioso”, argumentou.
Nesta sexta-feira (24), o deputado israelense Danny Danon, do Likud, partido do premiê Benjamin Netanyahu, fez uma declaração que resume essa relação incômoda. “Não suportamos os catarianos, mas eles trouxeram os resultados”, disse, ao comentar a libertação dos primeiros reféns mantidos pelo Hamas.
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