Aliados históricos, Estados Unidos e Israel discordam sobre
a administração da Faixa de Gaza após a guerra que o Estado judeu trava contra
o grupo terrorista Hamas.
Os americanos defendem que a Autoridade Palestina assuma a
administração do enclave, ideia que por enquanto tem forte rejeição do premiê
israelense, Benjamin Netanyahu. Entretanto, os dois países concordam num ponto:
o corpo político, criado na década de 1990 na esteira dos Acordos de Oslo, só
terá um papel no futuro de Gaza se passar por grandes mudanças.
O primeiro-ministro israelense considera a atual Autoridade
Palestina corrupta e a acusa de financiar e incentivar o terrorismo contra o
seu país.
“Depois do grande sacrifício dos nossos civis e dos nossos
soldados, não permitirei a entrada em Gaza daqueles que educam para o
terrorismo, apoiam o terrorismo e financiam o terrorismo”, disparou Netanyahu.
“Penso que a Autoridade Palestina, na sua forma atual, não é
capaz de aceitar a responsabilidade por Gaza depois de termos lutado e feito
tudo isto, de passar [a administração do território] para eles”, disse o
premiê.
Tzachi Hanegbi, chefe do Conselho de Segurança Nacional de
Israel, escreveu em um artigo publicado na quinta-feira (21) no site de
notícias em árabe Elaph que a Autoridade Palestina precisa passar por grandes
mudanças para poder administrar Gaza.
“Israel está ciente do desejo da comunidade internacional e
dos países da região de integrar a Autoridade Palestina no dia seguinte à
derrota do Hamas, e deixamos claro que o assunto exigirá uma reforma
fundamental da Autoridade Palestina”, disse Hanegbi.
Em 2007, ano seguinte à sua vitória nas eleições em Gaza, o
Hamas expulsou o Fatah, partido do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud
Abbas, do enclave.
Em artigo publicado no jornal Washington Post no último fim
de semana, o presidente americano, Joe Biden, voltou a defender que o corpo
político que controla partes da Cisjordânia assuma o poder em Gaza, mas também
indicou a necessidade de mudanças.
“Enquanto lutamos pela paz, Gaza e a Cisjordânia devem ser reunidas sob uma única estrutura de governança, em última análise, sob uma Autoridade Palestina revitalizada, enquanto todos trabalhamos para uma solução de dois Estados”, escreveu Biden.
“Não deve haver deslocamento forçado de palestinos de Gaza,
nenhuma reocupação, nenhum cerco ou bloqueio, e nenhuma redução de território”,
afirmou o presidente americano.
Embora Israel diga que não tem planos de ocupar Gaza novamente, Netanyahu tem falado que, ao menos no futuro próximo, o Estado judeu deve assumir a segurança do território.
Uma pesquisa feita em Gaza e na Cisjordânia mostrou que, enquanto o apoio ao Hamas cresce entre os palestinos, quase 90% acreditam que Abbas deve renunciar à presidência da Autoridade Palestina.
Nas áreas palestinas da Cisjordânia, 92% querem a saída
dele, por considerarem sua administração corrupta, autocrática e ineficaz.
Em 2006, os mesmos argumentos foram usados para explicar a derrota eleitoral do Fatah em Gaza (por fim, o Hamas se revelou ainda pior).
Em entrevista à agência Reuters, Abbas se disse disposto a
“reformar” a estrutura governamental, mas que isso só pode ser feito se houver
esforços para a adoção da solução de dois Estados.
“O problema não é mudar os políticos [palestinos] e formar
um novo governo; o problema são as políticas do governo israelense”, disse
Abbas.
Diante dessa queda de braço, o pesquisador Khalil Shikaki,
do centro palestino de pesquisas responsável pelo levantamento que indicou o
desgaste de Abbas, afirmou à Associated Press que acredita que a visão
israelense deve prevalecer no futuro próximo ao fim do conflito.
“Israel está preso em Gaza”, disse Shikaki. “Talvez o próximo governo [israelense] decida que Netanyahu não está certo ao impor tantas condições, e poderá decidir retirar-se unilateralmente de Gaza. Mas o prognóstico para o futuro, para Israel e Gaza, é que Israel promova uma plena reocupação de Gaza.”
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