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médicos abandonam hospital pediátrico em Cuba

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O
Hospital Pediátrico Docente de El Cerro, que já foi considerado um dos melhores
da área em Cuba, enfrenta neste momento uma grave crise em seu quadro de
funcionários, depois que vários médicos decidiram pedir demissão por causa das
péssimas condições de trabalho e dos baixos salários. A informação sobre a
situação da unidade de saúde foi revelada por meio de uma reportagem do portal
independente cubano 14ymedio.

A
situação reflete o atual colapso do sistema de saúde pública que está afetando
o país caribenho neste momento, que tem sido alvo de protestos e denúncias por
parte de pacientes e seus familiares.

O
Hospital Pediátrico Docente de El Cerro, que fica localizado na capital de
Cuba, Havana, está praticamente abandonado, conforme noticiou o 14ymedio.
Segundo uma funcionária do hospital e vários moradores da região que falaram
anonimamente com o portal, diversos médicos que trabalhavam na unidade de saúde
deram um “basta” nas más condições em que exerciam sua profissão e deixaram o
local no final de dezembro de 2023.

Todos
que decidiram falar anonimamente com o portal de notícias cubano apontaram para
a falta de recursos, de reconhecimento e de respeito pela profissão, como os
principais motivos que levaram a saída em massa dos profissionais.

Segundo
o 14ymedio, os médicos que atuavam no hospital já haviam reclamado anteriormente
que não tinham materiais básicos para atender os seus pacientes, que não recebiam
um salário digno, que sofriam com a pressão e a hostilidade da administração e
que estavam expostos a riscos de contágio e violência. Além disso, muitos deles
afirmaram que estavam tendo que trabalhar em jornadas exaustivas, sem descanso
nem incentivos.

O
portal cubano veiculou um estudo realizado em 2019 por um grupo de
pesquisadores que apontou que os médicos do hospital El Cerro sofriam de um
alto nível de desgaste profissional, que se manifestava em sintomas de exaustão
e baixa produtividade.

O
estudo também mostrou o lado humano da situação, apontando que diversos médicos
se sentiam culpados e frustrados emocionalmente por causa das dificuldades que
enfrentavam no trabalho.

A
crise do hospital de El Cerro não é um caso isolado dentro do precário sistema
de saúde pública da ilha comunista, que está vivendo sua mais grave crise
econômica em décadas. A escassez de medicamentos, a insalubridade, a falta de
equipamentos, bem como a repressão são alguns dos outros problemas que afetam neste
momento a qualidade e a acessibilidade dos serviços médicos cubanos.

Os
próprios pacientes e seus familiares são testemunhas e vítimas dessa realidade.
Em novembro de 2023, o portal 14ymedio noticiou que um grupo de mães de
crianças cubanas com doenças graves ou de difícil tratamento protestou em
frente ao Ministério da Saúde Pública da ilha, exigindo uma melhor atenção para
seus filhos. Algumas chegaram a ser presas pela polícia do regime de Miguel
Díaz-Canel, que tentou impedir a manifestação.

Durante
o ato, as mulheres gritaram palavras de ordem contra o comunismo e o regime
castrista, responsabilizando-os pela situação de abandono e desamparo que
viviam.

“Não
queremos mais comunismo, queremos uma solução”, disseram elas.

Em
meio a toda essa crise, o Observatório Cubano de Conflitos, uma organização de
direitos humanos, afirmou que o regime comunista segue explorando e
“exportando” médicos para outros países.

Segundo
um artigo publicado pela organização em novembro de 2023, essa prática já se
tornou uma das principais fontes de renda do regime de Díaz-Canel. A
organização veiculou que, segundo dados oficiais, desde os anos 60 mais de 400
mil profissionais de saúde cubanos trabalharam em 164 países, sendo que
atualmente cerca de 30 mil estão atuando em 66 países. A organização observa
que esses médicos não são contratados de forma voluntária e justa, mas sim
obrigados a aceitar as condições de trabalho que “violam seus direitos humanos
e trabalhistas”.

Conforme
explicou a ONG, diversas denúncias e investigações apontam que os médicos
cubanos enviados pelo regime para trabalhar no exterior recebem apenas uma
pequena parte do salário que é pago pelos países contratantes, enquanto o resto
fica nas mãos do regime comunista da ilha. Além disso, eles são submetidos a
uma vigilância constante, que envolve um controle ideológico, um isolamento de
suas famílias e o alto risco de represálias se decidirem desertar ou denunciar
a situação. Muitos deles também são enviados para zonas perigosas ou
conflituosas, onde não têm garantias de segurança nem de assistência.

De acordo
com dados da organização de direitos humanos Prisoners Defenders, existe atualmente
cerca de 5 mil médicos cubanos espalhados por dezenas de países que não podem mais
“ver seus filhos, esposas ou pais que ainda vivem na ilha”. A organização
afirma que esses médicos foram proibidos de retornar para Cuba após “abandonarem”
o programa do regime comunista de enviar médicos para o exterior.

Assim como atinge os médicos que vivem fora do país caribenho, a
repressão do regime comunista cubano também alcança os médicos que permaneceram
na ilha, mas que ousaram denunciar as falhas e as injustiças do sistema de saúde
local. Segundo informações do 14ymedio, veiculadas em novembro de 2023,
seis médicos do Hospital Carlos Manuel de Céspedes, localizado na província de
Granma, foram julgados e condenados por uma suposta negligência na morte de um
jovem acidentado em 2021. Os médicos, no entanto, alegaram que não tinham os
recursos necessários para atender o paciente, e que foram vítimas de um
processo político feito para encobrir a responsabilidade do regime na crise
sanitária cubana.

Entrevistado pelo portal, o urologista cubano Aldo Luis Zamora
Varona acusou o regime cubano de negligência e disse que o Estado era o “único
responsável” pela morte do jovem, já que os profissionais de saúde da ilha
trabalham em condições precárias “jamais vistas nem no país mais pobre do
mundo”.

Dados
oficiais de 2022, publicados pela Oficina Nacional de Estatísticas e Informação
(ONEI) de Cuba, apontaram para uma redução drástica no número de médicos na
ilha: de 312.406 em 2021 para 281.098 em 2022. Esse declínio reflete as
renúncias e a emigração de profissionais de saúde, evidenciando o
descontentamento deles com as condições precárias de trabalho e as políticas
governamentais.

Segundo informações do portal Diário das Américas, de 2021 para 2022 mais de 30 mil médicos cubanos renunciaram a seu posto de trabalho ou emigraram do país.

FONTE: Gazeta do Povo