Logo na primeira semana do ano, uma série de fatos no
Oriente Médio faz crescer o temor de que a violência na região se estenda além
do conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas, iniciado em outubro após
os atentados em território israelense.
O receio de escalada existe desde os primeiros dias da
guerra, devido às ações paralelas ao palco principal, como os ataques dos
rebeldes houthis do Iêmen e confrontos pontuais entre Israel e o grupo xiita
libanês Hezbollah.
Entretanto, os desdobramentos dos últimos dias podem abrir
brecha para o acirramento das tensões, a entrada mais incisiva de certos atores
e até de conflitos paralelos a Israel x Hamas.
“As probabilidades de uma guerra regional no Oriente Médio subiram
de 15% para 30%”, disse o almirante reformado James Stavridis, ex-comandante da
OTAN, ao New York Times. “Ainda relativamente baixas, mas maiores do que antes,
e certamente desconfortavelmente altas.”
Confira os principais focos de tensão no momento:
Irã
Na quarta-feira (3), um ataque em Kerman, no Irã, matou 89 pessoas e deixou quase 300 feridas durante uma homenagem a Qassem Soleimani, ex-comandante da unidade de elite da Guarda Revolucionária Iraniana morto por um drone dos Estados Unidos em 2020.
O Estado Islâmico reivindicou a autoria do atentado no dia seguinte, o que pode levar a uma forte resposta iraniana ao grupo terrorista e um conflito paralelo no Oriente Médio. Até esta sexta-feira (5), 11 suspeitos de envolvimento no ataque haviam sido presos pelas autoridades iranianas.
Ao mesmo tempo, Teerã deve manter ou até aumentar a ênfase
em ações de desestabilização em outros países do Oriente Médio por meio dos
grupos que apoia: Hamas, Hezbollah e os houthis do Iêmen.
“Uma arquitetura de segurança regional cada vez mais eficaz,
do tipo que os Estados Unidos e a Arábia Saudita estão tentando construir, é um
pesadelo para o Irã, que, como um valentão no parquinho, quer manter todas as
outras crianças divididas e distraídas”, disse Bradley Bowman, diretor sênior
do think tank americano Centro de Poder Militar e Político, em entrevista ao
site Politico.
Líbano
Um bombardeio atingiu escritórios do Hamas nos arredores da capital libanesa, Beirute, na terça-feira (2) e pelo menos um veículo que estava nas proximidades, matando sete pessoas.
Entre elas, estavam o número dois do braço político do Hamas, Saleh al Arouri, e outros dois membros do grupo terrorista.
Além de uma possível escalada por parte do próprio Hamas, há
receio de uma entrada mais incisiva do Hezbollah, baseado no Líbano, na guerra
contra Israel, ainda que o Estado judeu não tenha confirmado a autoria do
ataque em Beirute.
O ministro das Relações Exteriores libanês, Abdallah Bou
Habib, disse à BBC que pediu ao Hezbollah para não que não haja retaliações.
“Estamos muito preocupados, nós, libaneses não queremos ser
arrastados [para a guerra], nem mesmo o Hezbollah quer ser arrastado para uma
guerra regional”, afirmou.
Houthis
Em “solidariedade à causa palestina”, os rebeldes houthis do Iêmen, também apoiados pelo Irã, fizeram ataques a Israel e têm promovido ações no Mar Vermelho.
Um comunicado dos Estados Unidos, endossado por Reino Unido,
Austrália, Nova Zelândia, Bahrein, Bélgica, Canadá, Alemanha, Dinamarca,
Itália, Japão, Singapura e Holanda, pediu a interrupção imediata desses ataques
e indicou que a paciência do Ocidente e aliados com os houthis, apesar do
receio de despertar novamente a guerra no Iêmen, está curta.
“Os houthis arcarão com as consequências caso continuem a ameaçar
vidas, a economia global e o livre fluxo do comércio nas vias navegáveis
críticas da região”, apontaram.
Os rebeldes houthis, por sua vez, acusaram a recém-formada
aliança naval liderada pelos Estados Unidos de representar uma “grave ameaça”
para a navegação no Mar Vermelho.
“A formação de uma aliança dos EUA para proteger os navios
israelenses representa uma grave ameaça à segurança da navegação internacional
no Mar Vermelho, e os envolvidos devem arcar com as consequências do perigoso e
irresponsável aumento de tensão”, declarou em comunicado o escritório político
do grupo.
Iraque
Um ataque nesta semana ao quartel-general de uma das milícias da Multidão Popular, grupo pró-Irã, no leste de Bagdá, causou a morte de três combatentes, incluindo a de um importante comandante.
O Exército iraquiano culpou a coalizão liderada pelos EUA
pelo ataque e o Ministério das Relações Exteriores do Iraque afirmou que essa
“agressão” contra o grupo de milícias, em sua maioria pró-iranianas e de fato
integradas às Forças Armadas iraquianas, representa “uma escalada perigosa”.
A pasta alegou na quinta-feira (4) que o país tem o direito
de tomar “medidas para dissuadir qualquer um que tente prejudicar seu
território ou sua segurança”.
Os Estados Unidos depois assumiram responsabilidade pela ação, alegando “legítima defesa” em razão de ataques de milícias a suas bases na região, que foram motivados pelo apoio americano a Israel.
Nesta sexta-feira, o primeiro-ministro do Iraque, Mohammed Shia al Sudani, anunciou a formação de um comitê bilateral para programar a retirada das forças da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos. (Com Agência EFE)
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