O mais recente estudo do Escritório da ONU sobre Drogas e Crimes (UNODC) revelou que as organizações criminosas são responsáveis por pelo menos metade dos homicídios na América Latina e no Caribe, que registram atualmente os níveis mais elevados do mundo, de acordo com o levantamento.
O UNODC observou que oito em cada 10 países com as taxas de homicídios mais altas estavam localizados na região. As médias anuais de mortes, segundo estatísticas de 2021, foram de 9,3 por 100 mil habitantes na América do Sul, 16,9 por 100 mil na América Central e 12,7 por 100 mil no Caribe.
Entre os 16 países que lideram a lista estão a Jamaica, Honduras, Belize, Bahamas, Trindade e Tobago, Guatemala, El Salvador, Guiana, Panamá, República Dominicana, Uruguai, Costa Rica e Equador.
O órgão internacional indicou que os principais fatores que influenciam no crescimento da violência na América Latina são os confrontos entre grupos criminosos com fácil acesso a armas de fogo e a ineficácia nas ações dos governos no combate ao crime organizado.
Um dos dados revelados pelo estudo aponta que 75% das vítimas assassinadas morreram após disparo de arma de fogo. Os equipamentos são frequentemente importados legal ou ilegalmente dos Estados Unidos e da Europa.
Um exemplo apresentado pelo relatório é o do Haiti, localizado no Caribe, onde há uma facilidade no recebimento de materiais ilegais com origem dos Estados Unidos devido às fracas leis de controle do fluxo de importações. Em 2022, a taxa de homicídios no país subiu para 18 por 100 mil habitantes, um aumento de mais de 35% em relação ao ano anterior.
Nos últimos anos, a influência do tráfico de drogas, das gangues e milícias que operam em todo o continente tornaram os países mais frágeis em relação à violência, principalmente após o surgimento de novas facções criminosas, que acabam competindo entre si pelo controle do narcotráfico.
Um dos casos mais emblemáticos na América do Sul é o do Equador, país que vivia em um cenário de certa estabilidade, mas que se tornou um campo de batalha marcado por violência, assassinatos e a influência devastadora do crime organizado. Em 2017, a taxa de homicídios no país era de 5,6 por 100 mil habitantes, uma das mais baixas da América Latina. No entanto, esse índice disparou nos últimos anos e chegou a 25,5 assassinatos por 100 mil habitantes em 2022.
Outro país que passa pelo mesmo processo é o caribenho Trindade e Tobago, onde as diversas gangues presentes têm lutado pelo domínio territorial do tráfico, provocando o disparo do índice de violência. Ainda no Caribe, São Vicente e Granadinas, Ilhas Turcas e Caicos, Santa Lúcia e Bahamas também experimentam números recordes, principalmente devido à competição pelas rotas das drogas.
Na América Central, a Costa Rica é um dos grandes destaques nesse sentido. O país registrou um aumento nos homicídios, atingindo uma taxa de 12,8 por 100 mil habitantes em 2022, segundo o UNODC, sendo a maior parte da violência relacionada às disputas entre traficantes, em particular pelo controle do porto de Moín, na província de Limón, um importante centro de transporte de cocaína para a Europa.
Um outro fator relevante citado pelo relatório é a expansão do comércio internacional de drogas e as mudanças na geografia criminosa e na concorrência que o mercado criou. Os níveis recorde de produção de cocaína no Peru, Bolívia e Colômbia alimentaram a violência entre grupos criminosos locais e internacionais no vizinho Equador, onde os homicídios aumentaram 94,7% entre 2021 e 2022, de acordo com a ONU.
Uma estratégia utilizada por governos para tentar frear a ação criminosa é a declaração de estado de emergência, medida que tem sido observada em vários países da América Latina, no entanto que apresenta resultados diferentes, sendo eficaz em certas localidades e ineficaz em outras.
O estado de emergência prolongado exercido em El Salvador reduziu com sucesso a taxa de homicídios, que caiu de 17,2 por 100 mil em 2021 para 7,8 por 100 mil em 2022, de acordo com o UNODC. Contudo, no país vizinho Honduras, ações de segurança semelhantes não conseguiram reduzir a violência local.
Da mesma forma ocorre na Jamaica, onde repetidos estados de emergência foram associados a acusações de brutalidade policial, mas não a reduções sustentadas dos índices de violência, com a taxa de homicídios chegando a 53,3 por 100.000 habitantes em 2022, contra 47,3 em 2020, de acordo com dados da ONU.
No Equador, as tentativas do governo de controlar a violência também falharam, com a transferência de líderes de gangues de uma prisão para outra, que alimentaram ainda mais a ocorrência de massacres em diversas penitenciárias, marcadas por confrontos entre gangues rivais.
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