Os agricultores europeus decidiram reagir nos últimos dias contra as políticas impostas pelos governos de seus países e da União Europeia (UE), que incluem medidas econômicas, ambientais e comerciais que, segundo eles, ameaçam a sobrevivência do setor no continente europeu.
Por meio de vídeos nas redes sociais, é possível ver que diversos agricultores têm realizado protestos com tratores, caminhões e outros equipamentos, muitas vezes bloqueando estradas, prédios públicos e até mesmo fábricas. Os movimentos estão ocorrendo por diversos países do continente e tem como pauta principal exigências por melhores condições de trabalho, preços justos e respeito pela atividade do campo, que os agricultores consideram como essencial para a alimentação e a economia europeia.
Na Alemanha, onde estão ocorrendo neste momento manifestações com maior intensidade, o estopim da revolta dos agricultores partiu da decisão do governo da coalizão de centro-esquerda do chanceler Olaf Scholz de eliminar as isenções fiscais sobre o diesel usado no maquinário agrícola.
A medida faz parte de um pacote do governo alemão para cobrir um déficit de 17 bilhões de euros (R$ 91,5 bilhões) no orçamento de 2024 e também é vista por críticos como um movimento dos partidos ambientalistas que fazem parte da coalizão do governo para “obrigar” os agricultores a serem mais “sustentáveis no campo”. Os produtores rurais afirmam que, com o fim dos incentivos fiscais, o custo de produção no país irá aumentar significativamente.
Os protestos pela Alemanha começaram em dezembro, quando milhares de tratores e caminhões bloquearam as ruas e as principais rodovias em quase todos os estados do país europeu e seguem ocorrendo neste mês no mesmo ritmo. Os agricultores receberam o apoio de diversas pessoas, inclusive de transportadoras e de partidos conservadores e de direita, que estavam criticando a agenda considerada por eles como globalista do governo Scholz.
Há relatos de que alguns
agricultores vindos da Holanda e da Polônia também se juntaram aos produtores
rurais da Alemanha e passaram a fazer parte dos protestos.
Apesar de o governo alemão ter
recuado de seu plano inicial e adiado o fim dos subsídios somente para 2026, bem
como ter decidido manter as isenções de impostos sobre veículos agrícolas, os
agricultores continuaram a se mobilizar no que chamaram de uma “semana de
ação”, que culminou em um grande protesto de 8,5 mil pessoas sendo realizado na
capital do país, Berlim, na segunda-feira (15).
Na ocasião, o presidente da Associação dos Agricultores da Alemanha (DBV), Joachim Rukwied, expressou sua expectativa de que o governo alemão reconsiderasse sua decisão sobre o fim do subsídio, afirmando que ela cria grandes dificuldades para os agricultores locais.
“Esse é o nosso objetivo principal nas manifestações”, disse ele, alertando que “caso contrário [se o governo não voltar atrás], o fornecimento de alimentos de alta qualidade estará em risco”.
A 1.223 quilômetros da Alemanha, na
Romênia, os agricultores também estão nas ruas há seis dias consecutivos e
bloqueiam o tráfego na principal estrada que fica próxima da capital do país,
Bucareste.
Os agricultores saíram com seus tratores para reivindicar uma compensação pelas perdas que estão sendo causadas por causa das importações mais baratas que o país vem recebendo da Ucrânia.
Eles também se opõem a uma proposta do governo, que poderá resultar nos próximos dias em um seguro obrigatório para veículos, pedem ainda a diminuição de 50% dos impostos sobre o setor, o pagamento antecipado de subsídios e uma queda no preço do diesel. Na pauta, também está uma oposição às políticas ambientais impostas pela UE.
O governo romeno tem negociado com os agricultores para tentar encerrar a manifestação. Na semana passada ocorreram diversas conversas entre ambas as partes, no entanto, eles não conseguiram chegar a um consenso. O ministro da Agricultura, Florin Barbu, disse que o governo seguirá negociando com o setor nesta semana.
“Temos reuniões agendadas para
discutir com calma com cada setor separadamente as medidas de apoio e as
soluções de financiamento para todas as situações que os agricultores estão
enfrentando neste ano agrícola”, disse ele.
“O preço dos combustíveis
aumentou, o preço dos seguros aumentou, chegamos ao ponto em que nos convém
mais ficar estacionados do que circular, porque os impostos são muito, muito
altos e não podemos mais pagar”, disse um caminhoneiro que se juntou aos
protestos dos agricultores romenos ao portal estatal Europa Libera.
Identificado como um dos líderes do protesto na Romênia, Danut Andrus, disse para a mídia local que as manifestações vão continuar “até que as autoridades entendam que sua incapacidade de gerir o país é real”. Ele também realizou críticas contra as políticas ambientais da UE.
O ministro da Economia do país, Marcel Bolos, disse que a pasta já concordou com algumas medidas reivindicadas pelos agricultores. No entanto, algumas delas deverão ser discutidas com a Comissão Europeia, porque envolvem justamente os compromissos firmados pela Romênia com as instituições continentais.
Além de Alemanha e Romênia, outros países europeus também enfrentam protestos de agricultores em menor intensidade. Na Bélgica, por exemplo, há informações de que os agricultores saíram às ruas para expressar seu descontentamento com o impacto dos planos de reforma ambiental impostos pela UE, que podem resultar em altos custos para o setor. Espera-se que em fevereiro ocorra também protestos de produtores rurais na Espanha.
Na Holanda, os agricultores realizam protestos pontuais desde 2022 contra as políticas climáticas que, segundo eles, podem inviabilizar a produção no país. A movimentação por lá foi tão significativa que culminou na vitória de um partido formado por agricultores nas eleições provinciais e na recente vitória da direita nas eleições gerais.
Na França, os agricultores jogaram várias pilhas de esterco e frutas podres na última terça-feira (16) na frente de prédios públicos da cidade de Toulouse, localizada no sudoeste do país.
Colocando nas ruas cerca de 400
tratores, mil produtores rurais se manifestaram pela cidade contra o aumento
dos impostos e dos encargos sociais, que afirmam serem prejudiciais para o
setor. Eles também pedem a diminuição do preço do combustível e do custo de
vida no país.
A França, liderada pelo presidente Emmanuel Macron, tem sido um dos principais países europeus que defendem a imposição das políticas ambientais da UE, que está forçando os Estados-membros do bloco a criar normas para cumprir com uma meta de redução de carbono até 2030 e desenvolver outras políticas “verdes” que estão, em sua maioria, resultando em taxas consideradas como abusivas pelos produtores rurais e no aumento dos custos de produção.
Já a Polônia e alguns outros países do leste europeu também enfrentam desde o ano passado manifestações organizadas pelos agricultores locais, desta vez, a maior parte delas estão sendo causadas por causa da entrada de grãos ucranianos que são considerados “como mais baratos” nos mercados da UE.
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