No atual cenário de conflito no Oriente Médio o Irã aparece
como um dos principais atores regionais. O regime islâmico, segundo informações
de autoridades dos EUA e de Israel, é responsável por utilizar e financiar uma
rede de grupos extremistas armados para projetar seu poder e influência pela
região.
Esses grupos e milícias, classificados por Teerã como o “Eixo da Resistência”, têm como inimigos comuns Israel e os Estados Unidos, e têm realizado ataques durante os últimos meses contra alvos militares e civis desses países e de seus aliados.
O apoio do Irã para as milícias e grupos extremistas que atuam por diversos países do Oriente Médio remonta à Revolução Islâmica de 1979, quando o regime teocrático xiita assumiu o poder em Teerã e passou a apoiar diversos movimentos islâmicos “revolucionários” pelo mundo.
O contato do Irã com sua rede extremista ocorre por meio da Guarda Revolucionária Iraniana, conhecida como Força Quds, que, segundo o site Rewards for Justice, do Centro de Inteligência do Departamento de Estado dos EUA, é uma ala militar utilizada para implementar as metas iranianas de política externa e “fornecer cobertura para operações de inteligência”, bem como “criar instabilidade no Oriente Médio”.
Informações do site Homeland Security Today, que faz análises sobre políticas de segurança interna, apontam que o principal objetivo iraniano neste atual cenário de conflito é utilizar essa rede de grupos extremistas para tentar dissuadir as forças ocidentais que atuam no Oriente Médio. Para isso, o regime islâmico tem distribuído armas, munições, treinamento, inteligência, logística e recursos financeiros para grupos extremistas que atuam no Líbano, na Síria, no Iraque e em Gaza.
Estima-se que o Irã gaste cerca de US$ 700 milhões (R$ 3,4 bilhões) por ano com o apoio que destina aos grupos do “Eixo de Resistência”. Esses recursos, segundo autoridades ocidentais, podem estar vindo principalmente das receitas do petróleo e do gás do país, que representam cerca de 60% do orçamento iraniano. Além disso, o Irã usa redes clandestinas de contrabando, lavagem de dinheiro e empresas de fachada para burlar as sanções internacionais e financiar as suas atividades no exterior.
Desde os ataques terroristas do
Hamas contra Israel, que ocorreram em outubro de 2023, foi possível observar
que os grupos extremistas apoiados e financiados pelo Irã aumentaram suas
incursões contra as bases e instalações militares dos EUA e de seus aliados no
Oriente Médio.
A intensificação desses ataques
pode ser observada nas incursões aéreas que estão sendo realizadas contra as
bases americanas no Iraque e na Síria, bem como os ataques com drones e mísseis
contra embarcações ocidentais no Mar Vermelho, em sua maioria realizados pela
milícia dos houthis, do Iêmen.
O principal representante do Irã
nessa rede de grupos extremistas
atualmente é o Hezbollah, o
grupo terrorista xiita libanês que tem forte presença
política e militar no Líbano, e que frequentemente entra em confronto com
Israel na fronteira entre os dois países. Nesse momento, por exemplo, o grupo intensificou seus ataques e
vem realizando bombardeios pontuais contra alvos israelenses desde o início do conflito
em Gaza. Um levantamento do site Homeland Security Today aponta que desde outubro, o grupo
terrorista libanês já realizou mais de 200 ataques contra as forças de Israel.
O Hezbollah foi um dos primeiros e mais importantes
beneficiários do apoio iraniano. A organização terrorista xiita surgiu na
década de 1980 em meio à Guerra Civil do Líbano, e, segundo autoridades
israelenses e americanas, vem recebendo durante anos treinamento, armas,
financiamento e orientação ideológica do Irã. Foi esse apoio que transformou o
grupo em um dos principais adversários de Israel no Oriente Médio.
O Hezbollah é acusado por governos ocidentais de ser
responsável por vários atos de terrorismo contra Israel e os Estados Unidos,
como os atentados contra a embaixada americana e os quartéis da paz em Beirute,
capital do Líbano, em 1983, e contra a embaixada israelense e a associação
judaica em Buenos Aires, na Argentina, em 1992 e 1994, respectivamente.
O grupo terrorista libanês também tem atuado
em outros países do Oriente Médio, especialmente na Síria, onde tem apoiado o
regime de Bashar al-Assad na guerra civil que se arrasta desde 2011.
“A relação entre Teerã e o Hezbollah se aprofundou ao longo dos anos, evoluindo de mera assistência para uma robusta aliança estratégica. As entidades compartilham objetivos, estratégias e materiais. A estreita relação entre o Secretário-Geral do Hezbollah, Hassan Nasrallah, e o líder do Irã, [Ali] Khamenei, fortalece ainda mais essa aliança”, escreveram Sara Harmouch, candidata a um doutorado na American University, e Nakissa Jahanbani, professora assistente no Centro de Combate ao Terrorismo da Academia Militar dos Estados Unidos em West Point, em um artigo disponível no site The Conversation.
O governo americano também acusa o Hezbollah de
ter ajudado o Irã a recrutar e treinar outras milícias xiitas que atuam no
Iraque e que integram atualmente a Resistencia Islâmica, que tem lançado diversos ataques com drones iranianos contra
bases americanas no Oriente Médio nas últimas semanas.
Conforme informações do Banco de Dados de Incidentes do Centro Global de Tendências e Análise do Terrorismo (GTTAC, na sigla em inglês), veiculadas pelo site Homeland Security Today, as milícias que compõem a Resistência Islâmica do Iraque realizaram desde outubro de 2023 mais de 100 ataques contra alvos americanos e seus aliados ocidentais. Entre as milícias que integram a Resistência Islâmica está o Kataeb Hezbollah, que é acusado pelos EUA de ser o responsável pelos ataques contra uma base americana na Jordânia que deixou três soldados mortos e mais de 30 feridos.
Além das milícias do Iraque e do
Hezbollah no Líbano, Teerã é acusada por autoridades de Israel e de países do
Ocidente de estar por trás do financiamento do Hamas e da Jihad Islâmica
Palestina, os dois grupos terroristas que atuam na Faixa de Gaza e que
arquitetaram os ataques de outubro.
“O apoio do Irã ao Hamas inclui
ajuda financeira, treinamento militar e, crucialmente, o fornecimento de
tecnologia de mísseis. Este financiamento aumentou as capacidades operacionais
do Hamas, possibilitando o desenvolvimento de um arsenal de mísseis mais
sofisticado e com maior alcance”, afirmam Harmouch e Jahanbani no artigo do The
Conversation.
Os houthis, milícia do Iêmen que foi novamente classificada pelos EUA como um grupo terrorista, é mais um membro do “Eixo de Resistência” do Irã que vem realizando ataques contra as forças ocidentais. Informações do governo americano veiculadas por agências internacionais de notícias citam que a organização iemenita recebe financiamento, armas, treinamento e assistência do regime islâmico para poder atuar no país. Entre as principais armas que chegam até os houthis estão os drones iranianos, utilizados neste momento pela milícia para atacar os navios comerciais ocidentais que navegam pelo Mar Vermelho.
Os ataques contra esses navios levaram as forças dos
EUA e do Reino Unido a realizar uma ofensiva aérea contra alvos da milícia dentro
do território do Iêmen. Tais ataques, que são pontuais e duram até o momento,
são vistos como um risco de escalada do conflito que está em curso na região.
Além das armas e do treinamento, o Irã também trabalha
com o repasse de informações para os houthis. Segundo uma reportagem do jornal
americano The Wall Street Journal, o regime islâmico tem coletado dados
e informações sobre as embarcações que navegam pelo Mar Vermelho e enviado para
a milícia iemenita organizar e realizar os seus ataques. Essas informações
estariam sendo coletadas através de um navio iraniano e servem para identificar
quais embarcações ocidentais devem ser atacadas na região.
“Os houthis não têm tecnologia de radar para atingir os navios”, disse anonimamente ao jornal americano um oficial de segurança. Segundo ele, sem a ajuda iraniana, os mísseis lançados pela milícia iemenita “simplesmente cairiam no mar”.
Ray Takeyh, especialista iraniano do think tank
Council on Foreign Relations, aponta que “os laços dos houthis com o Irã foram
fortalecidos durante a guerra civil no Iêmen, com um subsequente aumento no
suporte militar e na coordenação dos ataques contra os navios no Mar Vermelho.
No Iraque, o conjunto de grupos de milícias xiitas parece ter consideráveis
ligações operacionais com o Irã. É irrazoável supor que esses grupos estejam
lançando todos esses ataques sem o prévio conhecimento do Irã”.
Teerã sempre tenta se distanciar dos ataques
realizados pelos grupos extremistas que integram sua rede, no entanto,
analistas apontam que o país está fazendo o uso de uma estratégia de “combate
indireto” com as forças ocidentais.
Ao site da National Public Radio (NPR), Hussein
Ibish, especialista em Oriente Médio e membro do think tank The Arab
Gulf States Institute, disse que o Irã tem utilizado as milícias que fazem
parte do seu “Eixo de Resistência” com a intenção de se engajar “indiretamente”
em diversos conflitos com as forças ocidentais que atuam na região, sem que
isso “afete diretamente o Irã ou os iranianos, ou sem que isso se aproxime de
sua própria terra”.
“Agir através de representantes é um método para fugir à responsabilidade, e o Irã empregou essa tática com sucesso no meio da guerra entre Israel e o Hamas”, aponta um artigo do Council on Foreign Relations.
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