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Conhecida pela tranquilidade, Montevidéu se torna território do crime

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Considerada até poucos anos uma cidade com alta qualidade de vida e bons índices de segurança, a capital uruguaia de Montevidéu agora enfrenta uma crescente onda de criminalidade, provocada pela disputa de diferentes gangues pelo controle do narcotráfico.

Os bairros de Villa Española e Peñarol estão no centro da guerra local, criando um precedente preocupante em um dos países mais pacíficos da América Latina. Segundo o Índice Global da Paz, um relatório elaborado pela revista The Economist em parceria com grandes universidades do mundo, o Uruguai é o segundo país mais seguro da região, ficando logo atrás da Costa Rica, que também tem sido fortemente atingida pela atividade de narcotraficantes.

Em novembro do ano passado, as autoridades uruguaias descobriram o corpo de um homem semienterrado em um terreno baldio em Peñarol, bairro ao norte de Montevidéu. Posteriormente, o caso foi ligado a outros assassinatos, incluindo de uma mulher que também teve o corpo desmembrado e abandonado em um bueiro no mesmo bairro.

Já em Villa Española, os tiroteios se tornaram cada vez mais frequentes entre traficantes de droga, que até criaram um “toque de recolher” na região, impedindo os residentes de sair de casa no período da noite por medo de serem atingidos no fogo cruzado. Duas gangues são as principais responsáveis pelas ações criminosas nesse local específico: os Pibitos e os Albín, que estão em guerra pelo controle do microtráfico de drogas, segundo denunciaram investigadores.

Diante da escalada da violência em Montevidéu, os dois bairros foram alvos de uma megaoperação policial recente que chegou ao conhecimento do governo federal, liderado pelo presidente Luis Lacalle Pou. Em um pronunciamento na ocasião, o mandatário uruguaio disse que sua administração trabalha em uma “estratégia forte para lidar com o recente aumento da criminalidade e da violência no país”.

“Devemos trabalhar mais para combater o tráfico de drogas e devemos trabalhar mais arduamente com aquelas pessoas que estão dispostas a acabar com o negócio ilícito”, disse ele, acrescentando que o Ministério do Interior acompanha a atual situação de perto e trabalha na resolução dos problemas da capital.

De acordo com a ONG de jornalismo investigativo Insight Crime, que investiga o crime organizado na América Latina e Caribe, nos últimos anos, o Uruguai tem caminhado para bater um recorde de homicídios, principalmente devido a conflitos entre gangues.

Os dados oficiais do governo confirmam o fenômeno ao mostrar que o país, considerado um dos mais seguros da América Latina, passou de 283 assassinatos em 2017 para 420, no ano seguinte. Em 2021, os casos voltaram a cair para 300, mas voltaram a crescer nos dois anos seguintes. A título de comparação, em 2010, houve seis assassinatos para cada 100 mil habitantes no Uruguai.

De acordo com uma investigação do portal de notícias Búsqueda, três clãs liderados pelas famílias Vallejo, Caldera e Segales estão supostamente por trás de grande parte da violência em Peñarol. O líder dessa última família, Mauro Segales, foi preso e acusado em outubro do assassinato da mulher cujo corpo desmembrado foi encontrado no bairro.

Em Villa Española, três outros grupos dirigidos pelas famílias Puglia, Albín e Suárez foram responsáveis ​​pela maior parte da violência, informou o semanário.

Apesar da listas com as principais gangues criminosas que atuam na localidade, informações coletadas pela polícia uruguaia estimam que 45 clãs familiares são responsáveis pela crescente violência em Montevidéu e arredores. Além de serem responsáveis ​​pela venda de drogas na capital, essas facções também usam rotas terrestres e fluviais para trazer drogas para o país, segundo informou Alfredo Rodríguez, diretor de combate ao tráfico de drogas da polícia uruguaia.

Além da crise nas ruas, um relatório do Comissário Parlamentar para o Sistema Penitenciário do país, divulgado no ano passado, revela que a população carcerária do Uruguai triplicou nas últimas duas décadas, crescendo a uma taxa de 10% ao ano. Tal situação tem provocado um verdadeiro colapso no sistema carcerário, com elevados níveis de sobrelotação e violência interna nas prisões, questão diretamente ligada ao disparo das atividades criminosas na nação até então segura.

FONTE: Gazeta do Povo