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Ex-braço politico do IRA no poder reacende debate sobre reunificar Irlanda

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No último dia 3, a Irlanda do Norte resolveu um impasse de
dois anos e abriu caminho para reacender outro, este, com mais de cem anos.

No primeiro sábado de fevereiro, Michelle O’Neill, do partido nacionalista Sinn Féin, que prega a reunificação da Irlanda, se tornou a nova chefe de governo da Irlanda do Norte.

A legenda dela, que no passado foi o braço político do grupo
terrorista IRA, foi a mais votada na eleição para a Assembleia Nacional norte-irlandesa,
em maio de 2022. Porém, não conseguiu formar um governo.

A legislação estabelece que o Executivo da Irlanda do Norte
deve ser formado por membros de partidos nacionalistas e unionistas (que
defendem a permanência do país no Reino Unido).

O Partido Democrático Unionista (DUP, na sigla em inglês)
foi o segundo mais votado na eleição de 2022, mas se recusava a formar um
governo e boicotou a Assembleia Nacional durante dois anos porque era contrário
às regras comerciais do pós-Brexit.

Por fim, chegou-se a um acordo, que inclui um repasse de 3 bilhões
de libras (quase R$ 19 bilhões) do governo britânico para serviços públicos na
Irlanda do Norte.

Com O’Neill encabeçando o novo governo, pela primeira vez
desde a partição da Irlanda, em 1921, uma nacionalista ocupa o cargo máximo do
Executivo norte-irlandês.

Uma reportagem recente da CNBC destacou como o histórico
familiar da nova primeira-ministra reflete a fronteira borrada entre Sinn Féin e
IRA no passado: o pai dela foi preso na época de militante do grupo terrorista
e depois se tornou vereador pelo partido, enquanto um primo, também integrante
do IRA, foi morto pelo Serviço Aéreo Especial (SAS, na sigla em inglês) do
Reino Unido em 1991.

Agora, O’Neill busca a reunificação da Irlanda sem pegar em
armas. “Há tantas coisas que estão mudando. Todas as velhas normas, a natureza
deste Estado, o fato de que uma republicana nacionalista nunca deveria ser
primeira-ministra. Tudo isso indica mudança”, disse O’Neill em entrevista à Sky
News.

Na última quinta-feira (8), em entrevista coletiva à
imprensa internacional, Mary Lou McDonald, presidente do Sinn Féin, afirmou que
um referendo sobre a reunificação da ilha deve ser realizado dentro de dez
anos.

“Nossa ilha está dividida há mais de um século. Acredito
apaixonadamente na reunificação irlandesa como o melhor plano para nossa
economia, nossa sociedade, nossa política e para desempenharmos nosso papel no
mundo, na comunidade global”, disse, em resposta a uma pergunta da Agência EFE.

Na mesma coletiva, O’Neill citou que a Irlanda do Norte
votou para permanecer na União Europeia na votação do Brexit, em 2016, mas “o
governo britânico nos forçou a sair”.

No caso de um referendo sobre a reunificação da ilha, alegou
que “algumas pessoas avaliarão de qual união querem fazer parte” – a República
da Irlanda é parte do bloco europeu.

Porém, a possibilidade de um referendo desagrada tanto o
governo britânico quanto os aliados unionistas do novo Executivo da Irlanda do
Norte.

“Nosso novo acordo dá a eles [norte-irlandeses] mais poderes
e mais verbas do que jamais tiveram, para que possam ajudar as famílias e as
empresas em toda a Irlanda do Norte, e essa é a prioridade de todos agora”,
disse o premiê britânico, Rishi Sunak, à Sky News.

“Não se trata de [promover] uma mudança constitucional,
trata-se de concretizar as coisas do dia a dia que são importantes para as
pessoas”, argumentou.

Paul Givan, do DUP e ministro da Educação recém-nomeado da
Irlanda do Norte, disse à agência de notícias PA News que “é lamentável que,
quando se trata de eleições, o Sinn Féin se volte imediatamente para esta
questão de um referendo sobre a fronteira”.

“Eu alertei antes de Michelle O’Neill se tornar a
primeira-ministra para que resistissem à tentação de seguir o caminho de falar de
referendos sobre a fronteira quando precisamos nos concentrar na saúde, na
educação e em todas essas questões do dia a dia”, afirmou.

“A população quer que trabalhemos para resolver essas questões, não que fiquemos distraídos com essas questões constitucionais”, disse Givan.

FONTE: Gazeta do Povo