Duas potências com aparato nuclear, Índia e China, encontraram um novo ponto de tensão em suas relações envolvendo uma antiga disputa territorial na região do Himalaia.
O motivo da nova crise se concentra na construção de um túnel sala pelo governo de Nova Délhi nas montanhas do nordeste indiano. A inauguração aconteceu no mês passado, quando o primeiro-ministro, Narendra Modi, visitou o local e o classificou como uma “maravilha da engenharia ”.
A obra atravessa o Himalaia a uma altura aproximada de 3.900 metros e foi considerado um grande projeto da Índia por suas vantagens militares. Segundo a emissora CNN, a construção permite o rápido envio de soldados para a fronteira com a China, independente das condições climáticas.
O estado de Arunachal Pradesh ou Zangnan, como a China chama, onde o túnel está localizado, é reivindicado como um território de Pequim e alvo de confrontos diretos entre as nações. Em 2020, os dois países se envolveram em um confronto na fronteira que resultou na morte de 20 soldados indianos e quatro chineses. Esse foi o primeiro confronto com vítimas fatais desde 1975.
Logo após a divulgação do projeto, um porta-voz do Ministério de Defesa da China emitiu um comunicado, “exigindo” que o lado indiano parasse “qualquer ação que possa complicar a questão fronteiriça”.
“Os militares chineses permanecem muito vigilantes e defenderão resolutamente a soberania nacional e a integridade territorial”, diz um trecho da nota.
Em resposta, Nova Délhi classificou as reivindicações chinesas como “absurdas” e garantiu que a área de Arunachal Pradesh “foi, é e sempre será parte integrante e inalienável da Índia”, segundo disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do país, Randhiar Jaiswal.
Por envolver duas potências nucleares, a inauguração do túnel sala ganhou repercussão internacional. Em meio às trocas de farpas entre os dois países diretamente envolvidos, os Estados Unidos intervieram reconhecendo a região como território indiano.
Pequim denunciou a interferência da Casa Branca, acusando Washington de “aproveitar sistematicamente os conflitos entre outros países para servir aos seus próprios interesses geopolíticos egoístas”.
A China mantém relações conturbadas por causa da fronteira antes mesmo da Índia se tornar uma nação, em 1947.
Após a independência, as tentativas de normalizar as relações entre os países foram rapidamente frustradas em 1959, durante uma visita oficial do primeiro-ministro indiano à época, Jawaharlal Nehru, a Pequim, que afastou ainda mais os dois governos.
Na ocasião do encontro, Nehru levantou questionamento acerca de impasses nas fronteiras, visto que o regime chinês configurou à sua maneira seus mapas oficiais, considerando territórios pertencentes à Índia como seus.
Uma das maiores rixas envolve a região do Tibete, ocupada por Pequim, que reivindica cerca de 90 mil quilômetros quadrados de território. Naquele mesmo ano, ocorreu a revolta tibetana, período em que a Índia concedeu asilo a Dalai Lama, líder político e espiritual da região.
A partir disso, eclodiram diversos conflitos fronteiriços, entre eles a disputa fronteiriça no Himalaia, em Arunachal Pradesh, conhecida na China como Tibete do Sul, que levou à Guerra Sino-Indiana, três anos depois. Com as tentativas de acordos diplomáticos frustradas, Pequim penetrou na região indiana, iniciando um conflito militar que deixou milhares de indianos mortos.
Esses conflitos levaram a Índia a iniciar uma política ofensiva, estabelecendo postos avançados nas fronteiras, incluindo o novo túnel.
No ano passado, a ditadura de Xi Jinping e o governo de Narendra Modi se reuniram às margens da cimeira dos BRICS, na África do Sul, onde concordaram em trabalhar para tentar reduzir as tensões fronteiriças. No entanto, o mais recente episódio conflituoso entre os lados revela que a realidade está muito distante dos acordos políticos.
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