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A dicotomia de Hervázio Bezerra: de defensor do nome “João Pessoa” a propositor da mudança do hino da Paraíba

O deputado estadual Hervázio Bezerra (PSB) tem se destacado nos últimos tempos por suas atitudes que parecem refletir uma dicotomia de pensamento, especialmente quando se trata de questões culturais e identitárias da Paraíba.

Recentemente, ele foi o responsável pela Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que visa consolidar o nome “João Pessoa” como a denominação oficial da capital da Paraíba, encerrando de uma vez por todas a discussão sobre uma possível mudança do nome da cidade. Porém, o mesmo deputado que tentou selar esse debate agora se apresenta como um defensor da mudança do Hino do Estado da Paraíba, provocando questionamentos sobre sua postura em relação à identidade estadual.

A PEC do nome de João Pessoa: um debate encerrado?

A proposta apresentada por Hervázio Bezerra no final de 2023, e recentemente aprovada pela Assembleia Legislativa da Paraíba, estabeleceu de forma definitiva o nome de “João Pessoa” para a capital. A mudança foi uma tentativa de pôr fim ao debate iniciado após uma ação protocolada pelo advogado Raoni Vita, que buscava uma consulta popular sobre a possível mudança. Hervázio, então, propôs que a capital permanecesse com o nome atual, que já é amplamente reconhecido pela população, após mais de 90 anos de uso.

Na época, Hervázio argumentou que a alteração do nome era um tema ultrapassado, já que o nome “João Pessoa” já estava consolidado na identidade da cidade e que o plebiscito sugerido pelo advogado não era necessário. O próprio deputado afirmou que o objetivo da PEC era “encerrar de uma vez por todas a discussão sobre o nome da cidade”. Aprovada, a proposta tirou o tema da pauta, mas agora, com a nova proposta do deputado, outro debate parece tomar forma.

O Hino da Paraíba: a nova proposta

Enquanto se esforçou para consolidar o nome de “João Pessoa”, Hervázio agora propõe uma nova mudança no campo simbólico: alterar o Hino da Paraíba. Em entrevista à rádio CBN Paraíba, o deputado revelou sua intenção de apresentar um pedido formal para que a população seja consultada sobre a escolha de um novo hino para o estado. A ideia é realizar enquetes em todos os 223 municípios da Paraíba, permitindo que os cidadãos votem em suas músicas preferidas para representar o estado.

A justificativa de Hervázio para a mudança é que o hino atual não desperta identificação com o povo paraibano. Segundo ele, o hino atual da Paraíba, escrito por Francisco Aurélio de Figueiredo e Melo e musicado por Abdon Felinto Milanez, embora tenha sido oficializado em 1979, não reflete a identidade e a cultura do estado. “É de constranger”, afirmou o deputado, destacando que, durante eventos oficiais, como as mensagens do governador, o Hino Nacional é amplamente cantado pela população, enquanto o hino estadual é praticamente ignorado.

Em contrapartida, Hervázio defende a música “Jóia Rara”, do cantor e compositor Tom Oliveira, como uma possível substituta. Segundo o deputado, a letra e a melodia de “Jóia Rara” refletem a verdadeira essência da Paraíba, retratando sua cultura e história de maneira mais condizente com a identidade do povo.

Contraditório?

A relação entre as duas propostas do deputado Hervázio Bezerra – uma para fixar o nome “João Pessoa” e outra para mudar o hino estadual – levanta uma contradição interessante. De um lado, ele se coloca como defensor da estabilidade e da tradição, buscando consolidar o nome da capital para evitar discussões intermináveis. De outro, busca instigar uma mudança radical em um dos símbolos mais tradicionais do estado, que, embora reconhecido, parece não gerar a identificação que ele acredita ser necessária.

Essa dicotomia levanta questionamentos sobre o equilíbrio entre a preservação da história e a necessidade de atualização dos símbolos que representam uma sociedade. Se o nome “João Pessoa” deve ser preservado por ser parte integrante da história da cidade, a mesma lógica se aplicaria ao hino estadual? Ou será que, ao defender a mudança do hino, Hervázio está apenas buscando uma renovação simbólica que, segundo ele, refletiria melhor a atual realidade paraibana?

O fato é que, ao articular uma PEC para consolidar o nome de “João Pessoa” e ao mesmo tempo propor uma mudança no hino estadual, o deputado parece se movimentar em uma linha tênue entre a defesa da tradição e o desejo de renovação simbólica.

Márcia Dias

PB Agora

FONTE: PB Agora