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“As armas podem e devem silenciar”, diz papa Leão XIV em sua primeira audiência jubilar

O papa Leão XIV pediu paz hoje (14) no Vaticano, diante de patriarcas, metropolitas e fiéis de ritos católicos orientais, dizendo que “a guerra nunca é inevitável” e que “as armas podem e devem permanecer silenciosas”.

“Os povos querem a paz, e eu, com o coração na mão, digo aos líderes das nações: encontremo-nos, dialoguemos, negociemos”, disse o papa na audiência do Jubileu das Igrejas Orientais, um dos principais eventos do Ano Santo de 2025 convocado por seu antecessor, o papa Francisco.

“Uma paz tão necessária da Terra Santa à Ucrânia, do Líbano à Síria, do Oriente Médio ao Tigré e ao Cáucaso, quanta violência”, disse Leão XIV.

O papa disse que a paz de Cristo não é o “silêncio mortal depois do conflito” ou o “resultado da opressão”, mas sim um “dom que olha para as pessoas e reaviva suas vidas”.

Leão XIV disse então que fará “todo o possível” para que essa paz se espalhe.

“A Santa Sé está à disposição para que os inimigos se encontrem e se olhem nos olhos, para que os povos redescubram a esperança e a dignidade que merecem, a dignidade da paz”, disse também o papa.

Contra as armas e as histórias maniqueístas

Em seu discurso, que foi interrompido várias vezes por aplausos, Leão XIV destacou que as armas ” não resolvem os problemas, mas os aumentam”, ao mesmo tempo em que pediu uma mudança nas “visões maniqueístas típicas das narrativas violentas, que dividem o mundo entre bons e maus”.

“A Igreja não se cansará de repetir: silenciem as armas”, enfatizou.

O apelo de Leão XIV aos líderes mundiais, que denunciou que “em nome da conquista militar, pessoas estão morrendo”, ocorre na véspera de uma conferência em Istambul, Turquia, em que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, poderiam se encontrar.

A agenda do Jubileu da Esperança levou o papa Leão XIV a dedicar uma das primeiras reuniões do seu pontificado às Igrejas Católicas Orientais, que vivem em comunhão com Roma, mas com ritos e tradições próprios.

A aula Paulo VI, no Vaticano, foi preenchida com as cores das bandeiras da Síria, do Iraque, do Líbano, da Ucrânia e da Etiópia. Regiões assoladas por guerra, instabilidade política ou perseguição religiosa.

Preservar as tradições sem diluí-las

Em seu discurso, o papa disse estar preocupado com a situação vivida por muitas comunidades de caldeus, maronitas, siro-malabares, greco-católicos e coptas católicos, que foram forçadas “a fugir dos seus território de origem por causa da guerra e perseguições, da instabilidade e pobreza, correndo o risco de, ao chegarem no Ocidente, de perder, além da pátria, também a própria identidade religiosa”.

“Vocês são precisos. Olhando para vocês, penso na variedade de suas origens, na história gloriosa e no sofrimento amargo que muitas de suas comunidades suportaram ou estão suportando”, disse Leão XIV.

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O papa Leão XIV também exortou a “preservar e promover o Oriente cristão, sobretudo na diáspora” e falou sobre seu compromisso de “estabelecer, onde for possível e apropriado, circunscrições orientais”, porque, disse ele, “é necessário conscientizar os latinos”.

O papa também destacou que algumas de suas liturgias “ainda usam a linguagem do Senhor Jesus” e pediu que “suas tradições sejam preservadas sem diluí-las” e sem que sejam “corrompidas por um espírito consumista e utilitário”.

Assim, Leão XIV pediu ao Dicastério para as Igrejas Orientais da Santa Sé que o ajude a “definir princípios, normas e diretrizes por meio dos quais os Pastores latinos possam apoiar concretamente os católicos orientais da diáspora a preservar as suas tradições vivas e a enriquecer com a sua singularidade o contexto em que vivem”.

Uma espiritualidade viva e medicinal

“A Igreja precisa de vocês. Quão grande é a contribuição que o Oriente cristão pode nos dar hoje!”, disse o papa depois de citar o papa Leão XIII, que publicou a carta apostólica Orientalium dignitas em 1894, um documento específico sobre a dignidade das Igrejas Orientais.

“Como temos necessidade de recuperar o sentido do mistério, tão vivo nas liturgias de vocês, que envolvem a pessoa humana na sua totalidade, cantam a beleza da salvação e inspiram o estupor pela grandeza divina que abraça a pequenez humana!”, disse Leão XIV.

“Como é importante redescobrir, também no Ocidente cristão, o sentido da primazia de Deus, o valor da mistagogia, da intercessão incessante, da penitência, do jejum, do lamento pelos próprios pecados e pelos de toda a humanidade (penthos), tão típicos das espiritualidades orientais”, disse também o papa.

Assim, o papa Leão XIV disse que suas espiritualidades são “medicinais” para a vida, porque nelas o “senso dramático da miséria humana se mistura com a admiração pela misericórdia divina” e a baixeza humana “não causa desespero, mas nos convida à graça de sermos curados, criaturas divinizadas e elevadas às alturas celestiais”.

Permanecer com dignidade em sua própria terra

Do mesmo modo, Leão XIV quis expressar sua gratidão pelo trabalho daqueles que “no silêncio, na oração, nas oferendas, tecem fios de paz”, mas também pelo compromisso dos cristãos — orientais e latinos — que “especialmente no Oriente Médio, perseveram e resistem em suas terras, mais fortes do que a tentação de abandoná-las”.

“Os cristãos devem ter a oportunidade, não só em palavras, de permanecer em suas terras com todos os direitos necessários para uma existência segura”, disse o papa.

Libertação das dependências e fidelidade ao Evangelho

Por fim, Leão XIV disse que o esplendor do Oriente cristão exige, hoje mais do que nunca, “a libertação de toda dependência mundana e de todas as tendências contrárias à comunhão, para ser fiel na obediência e no testemunho evangélico”.

“Que haja transparência na gestão dos bens, e que eles testemunhem uma dedicação humilde e total ao povo santo de Deus, sem apego a honras, poderes mundanos ou à própria imagem”, concluiu o papa.

O Jubileu das Igrejas Orientais é um dos principais eventos do Ano Santo 2025, convocado pelo papa Francisco. Esse décimo terceiro grande evento de jubileu no calendário oficial viu celebrações litúrgicas conforme vários ritos católicos orientais, do etíope ao bizantino, como os ritos armênio, copta, siro-ocidental siro-católico oriental e malankara, que foram celebrados na basílica de São Pedro e na basílica de Santa Maria Maior, duas das principais igrejas do jubileu.

FONTE: ACI Digital