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Saída do arcebispo Paglia marca fim de um capítulo turbulento no Instituto João Paulo II

O que significa a reformulação do Pontifício Instituto Teológico João Paulo II para as Ciências do Matrimônio e da Família?

A nomeação do cardeal Baldassare Reina grão-chanceler do instituto está sendo celebrada como uma restauração parcial da ordem original do instituto quase dez anos depois que o papa Francisco alterou organismo acadêmico.

Em uma breve declaração na última segunda-feira (19), a Santa Sé anunciou que o papa Leão XIV nomeou o cardeal Reina para substituir o arcebispo Vincenzo Paglia, que completou 80 anos em 20 de abril e cuja saída era esperada há muito tempo.

O cardeal Reina, vigário-geral de Roma desde o ano passado, já é grão-chanceler da Pontifícia Universidade Lateranense, sede do Instituto João Paulo II.

Até 2016, o grão-chanceler do Instituto João Paulo II era tradicionalmente o vigário de Roma, mantendo um estreito vínculo institucional entre o instituto e a Universidade Lateranense desde que o instituto foi fundado pelo papa são João Paulo II em 1982.

O papa Francisco abriu uma exceção a essa norma em 2016 ao nomear o arcebispo Paglia, que implementou mudanças radicais e impopulares na identidade e na missão do instituto.

A nomeação antecipada do cardeal Reina no reinado de Leão XIV é um indício da prioridade do papa em corrigir essas mudanças, mas ainda não está claro o quanto o cardeal será capaz de restaurar o instituto à sua forma original.

Embora o retorno da tradição do vigário de Roma como grão-chanceler restaure a antiga ordem do instituto, os novos estatutos estipulam que o papa não nomeia mais o presidente, e é provável que isso continue assim no futuro próximo, dizem fontes.

Como consequência, o instituto continuará sem a proximidade especial com o papa que tinha antes do pontificado de Francisco, o que lhe garantia a possibilidade de apresentar a doutrina da Igreja sobre matrimônio e família conforme as doutrinas da Igreja.

Como grão-Chanceler, Reina terá, no entanto, um papel central na gestão do instituto, como a supervisão da fidelidade à doutrina da Igreja, a proposta de candidatos para cargos-chave e a ligação com o Dicastério para a Cultura e a Educação da Santa Sé. Segundo os estatutos, ele garante a direção eclesial do instituto e promove a comunhão e a unidade acadêmicas.

Criado cardeal em dezembro ano passado, Reina demonstrou apoio à santidade da vida humana, principalmente ao heroico testemunho pró-vida de Chiara Corbella Petrill, jovem leiga nascida em Roma que está sendo considerada para a canonização. Ele também resistiu à agenda LGBTQIA+.

Ele não parece ter um foco especial em doutrina e formação, porém, e não se espera que ele reverta muitas das mudanças no instituto, pelo menos a curto prazo, especialmente porque muitos dos novos professores têm estabilidade.

“Como as visões teológicas de Reina não são públicas, não sabemos se o instituto retornará à sua função original e extremamente importante como promotor da visão de João Paulo II sobre a pessoa humana no contexto do matrimônio e da família”, disse a professora Janet Smith, que deu aula de teologia moral no Seminário do Sagrado Coração em Detroit, EUA, e defendeu o instituto em 2019. Mas ela disse também que espera que a mudança na liderança seja “muito mais do que a retificação de uma questão processual irregular” e sinalize “o início de uma restauração completa de um instituto que mudou, e mal, de direção”.

Essa reorientação tornou-se evidente quando, sob o arcebispo Paglia, o instituto foi refundado em 2017, por meio do decreto Summa familiae cura, do papa Francisco. O recém-renomeado Instituto Teológico Pontifício João Paulo II para as Ciências do Matrimônio e da Família deveria ser voltado para o que o arcebispo Paglia e seus aliados descreveram como uma “nova teologia pastoral” que se voltasse para a “realidade concreta das situações”.

Ênfase em Sociologia, Antropologia Secular

Essa abordagem, que se apoiava fortemente na sociologia e na antropologia secular, visava levar adiante a doutrina moral de Amoris laetitia, exortação apostólica do papa Francisco escrita em 2016 sobre o Sínodo da Família, e torná-la irreversível.

Mas a abordagem foi criticada por diluir a clareza doutrinária do instituto e a fidelidade à doutrina da Igreja.

O cardeal Carlo Caffarra, presidente fundador do instituto, tinha sérias preocupações com a Amoris laetitia, que considerava incompatível com as doutrinas de são João Paulo II e o magistério da Igreja. O cardeal italiano, que assinou as dubia pedindo esclarecimentos sobre o documento, morreu em 6 de setembro de 2017. P; oucos dias depois, o papa Francisco reformou o instituto.

O arcebispo Paglia justificou as mudanças alegando o desejo de ampliar o escopo da missão do instituto para abranger desafios pastorais e sociais contemporâneos. Ele disse que as reformas visavam levar o instituto além da abordagem de conflitos éticos ou legais específicos e, em vez disso, articular uma antropologia mais abrangente.

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Ele formulou isso como uma resposta ao desejo do papa Francisco de que o instituto “ampliasse seu escopo de reflexão”, fazendo com que tivesse as “ferramentas para examinar criticamente a teoria e a prática da ciência e da tecnologia, à medida que interagem com a vida, seu significado e seu valor”.

Os problemas se intensificaram quando novos estatutos entraram em vigor em 2019, resultando na suspensão de cinco programas de mestrado, junto com a demissão de respeitados professores titulares, nenhum dos quais recebeu aviso prévio, nem qualquer recurso para contestar a decisão.

Os novos estatutos também centralizaram a tomada de decisões, reduzindo o papel da governança do corpo docente e da liberdade acadêmica, o que foi visto como um enfraquecimento do caráter colegial e acadêmico do instituto.

Em resposta, alunos e ex-alunos do corpo acadêmico publicaram uma carta aberta (link em inglês) em julho de 2019 expressando sua “imensa preocupação com a publicação repentina dos novos estatutos e da nova portaria de estudos do nosso Instituto”.

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Poucos meses depois, cerca de 200 professores, como os acadêmicos católicos Robert George, Scott Hahn, Janet Smith e Jane Adolphe, uniram suas vozes em outra carta aberta expressando sua “grande preocupação” (link em inglês) com as demissões e implorando que os professores líderes do instituto fossem reintegrados.

As mudanças no instituto não foram sobre renovação, expansão ou mesmo reforma, mas sim sobre sua dissolução e destruição, disse o professor Stanisław Grygiel, amigo próximo do papa São João Paulo II e um dos professores demitidos

As mudanças radicais foram o ápice de uma mudança de ênfase na teologia moral de são João Paulo II no pontificado do papa Francisco, vista, por exemplo, na marginalização dos professores do instituto no Sínodo da Família de 2014, e um claro desrespeito à encíclica de são João Paulo II publicada em 1993 sobre doutrina moral, Veritatis splendor, no magistério de Francisco.

Estudiosos “progressistas”

Jane Adolphe, professora de direito na Faculdade de Direito Ave Maria, disse na última quarta-feira (21) que, assim como havia sido previsto na época, os funcionários demitidos foram substituídos por “acadêmicos progressistas” com opiniões sobre homossexualidade e contracepção diferentes da doutrina.

O novo corpo docente tinha monsenhor Gilfredo Marengo e o padre Maurizio Chiodi, que respectivamente expressaram a disposição de rever a encíclica Humanae vitae, de são Paulo VI, e contradisseram a doutrina da Igreja sobre homossexualidade e contracepção artificial — em oposição direta ao ensinamento de João Paulo II sobre teologia moral.

Os então líderes do instituto também adotaram a mesma linha dissidente, entre eles Pierangelo Sequeri, então presidente do instituto, que também foi nomeado pelo arcebispo Paglia. Philippe Bordeyne, sucessor de Sequeri, também foi alvo de críticas por defender bênçãos litúrgicas para duplas homossexuais sob certas condições. O próprio arcebispo Paglia foi criticado por minar a integridade moral do instituto ao fazer declarações incompatíveis com a doutrina da Igreja, especialmente sobre o matrimônio e questões sobre a vida humana.

“Devemos agradecer ao papa Leão XIV por remover o Arcebispo Paglia”, disse Adolphe. Smith disse que a saída do arcebispo Paglia foi “definitivamente bem-vinda”, pois ele defendeu mudanças pastorais em questões sexuais, como a comunhão para uniões irregulares, “que não são compatíveis com as doutrinas da Igreja”.

Smith disse também que muitos esperavam que uma “mudança na liderança” do instituto “fosse uma das primeiras ações do papa Leão XIV” e que a instituição acadêmica precisava “ser restaurada em sua visão original, já que o fortalecimento da família é essencial para reformar este mundo perdido”.

“Agora tudo depende do cardeal Reina”, disse ao Register uma fonte próxima ao instituto.

Alguns observadores dizem que o novo grão-chanceler poderá substituir o reitor dentro de um ano ou mais, e que uma substituição tão crucial poderá então, lentamente, contribuir para uma reconfiguração do instituto. Adolphe gostaria de ver os antigos professores demitidos reintegrados e de uma investigação sobre as mudanças e novas contratações feitas sob o arcebispo Paglia.

Mas uma contrarrevolução, como seriam a repentina demissão dos contratados pelo arcebispo Paglia e a recontratação dos que ele demitiu, não é de se esperar, segundo algumas fontes, em parte porque seria vista como injusta quanto às ações de 2019, mas também porque seria vista como uma atitude muito forte contra seu antecessor.

A chegada do cardeal Reina pode, no entanto, levar professores com tendências mais liberais a se tornarem mais moderados em suas posições públicas, e os eventos públicos do instituto podem ficar mais alinhados com a direção do papa, sem a necessidade de intervenção direta.

Observadores dizem que isso não indicaria mudanças significativas no curto prazo, mas provavelmente marcaria o início do fim do que foi amplamente visto como um período altamente tumultuado e destrutivo, contrário à missão e aos ideais do instituto fundado pelo papa São João Paulo II há 43 anos.

FONTE: ACI Digital