26 de mai de 2025 às 16:16
Cerca de 80 mil manuscritos antigos da Biblioteca Apostólica do Vaticano serão restaurados e digitalizados graças a um acordo com a Fundação Colnaghi. A iniciativa busca preservar documentos únicos e facilitar o acesso a esse tesouro da Igreja.
As prateleiras da Biblioteca Apostólica Vaticana abrigam grande parte da memória editorial da humanidade. Há cerca de 82 mil manuscritos e 1,6 milhões de livros impressos, cerca de 8 mil deles incunábulos, isto é, impressos a partir de clichês gravados à mão.
Entre as preciosidades de seu catálogo estão um documento com ilustrações de Botticelli para a Divina Comédia e a única cópia quase completa da Republica de Cícero que sobreviveu até hoje.
“O material orgânico preservado está num estado muito deteriorado e desapareceria se não tomássemos medidas para restaurá-lo da melhor maneira possível”, disse à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, Candida Lodovica de Angelis Corvi, da Fundação Colnaghi, que acaba de assinar um acordo com a Santa Sé pelos próximos cinco anos justamente para deter essa deterioração.
No acordo há um ambicioso projeto de digitalização “que permitirá aos acadêmicos acesso remoto a documentos importantes que atualmente só estão disponíveis pessoalmente”, disse ela. A diretora da prestigiosa galeria de arte comercial, fundada em 1760, diz que isso terá “um profundo impacto democrático na acessibilidade ao conhecimento”.
Uma das principais vantagens desta colaboração é que a Biblioteca Apostólica do Vaticano poderá usar um scanner especial e exclusivo da FACTUM, subsidiária do grupo Colnaghi. “Quando você vai além, consegue obter mais detalhes, por exemplo, sobre a datação da obra em si”, diz Corvi.
O dispositivo também permite que partes que estão escondidas sejam trazidas à luz. “Há uma estratificação temporal dentro do próprio papel. Por baixo do que vemos, há gravações anteriores. Pode haver uma mensagem secreta, ou pode ser simplesmente o resultado da necessidade de reutilizar um pedaço de papel, mas é fascinante poder decifrar profundamente o que está por trás de cada manuscrito”, diz ela.
O projeto também tem uma reforma arquitetônica da biblioteca, que será feita pela empresa David Chipperfield, fundada pelo renomado arquiteto britânico radicado em Londres há 40 anos.
A Biblioteca Papal, dirigida pela italiana Raffaella Vincenti desde 2012, recebeu com entusiasmo essa colaboração. “Queremos expressar nossa profunda gratidão à Fundação Colnaghi por seu generoso apoio a vários projetos importantes da Biblioteca, que reforçam nosso compromisso com a disseminação da cultura”, disse Cesare Pasini, prefeito da instituição.
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Obras inéditas de Caravaggio, Bernini, Tintoretto e Ticiano
Para celebrar essa colaboração entre o mundo da arte e as instituições eclesiásticas, foi inaugurada hoje (26) a exposição Codex, com 14 obras de coleções privadas que, por esse motivo, não costumam estar em exposição. As visitas a esta exposição estão limitadas a uma autorização especial que deve ser solicitada à Santa Sé através da Biblioteca Apostólica. No dia 2 de junho, as obras voltarão às coleções particulares.
As obras em exposição são uma viagem visual e histórica pela arte sacra e pela arte retratística renascentista e barroca, destacando peças de alguns dos maiores mestres da história.
A exposição abre com São Pedro Penitente, do artista flamengo Anthony van Dyck, retratando o apóstolo em lágrimas, com uma expressão profundamente humana de arrependimento, marcada pelo claro-escuro barroco.
Ao lado do quadro, foi colocada a carta, conservada no acervo da Santa Sé, com a qual o arcebispo de Sevilha, Espanha, Antonio Salinas, que encomendou a pintura, concedeu indulgência plenária aos fiéis.
A exposição continua com O Triunfo da Flora, alegoria mitológica de Mario Nuzzi, exuberante em cores e simbolismo, celebrando a fertilidade da natureza com um espírito festivo e decorativo que contrasta com a seriedade de outras peças.
Outra obra em exposição é o esboço preparatório de Michelangelo para A Adoração da Serpente de Bronze, uma cena poderosa do Antigo Testamento. O desenho demonstra a intensidade anatômica e expressiva do artista, que consegue condensar drama e redenção numa única figura. O desenho também é acompanhado por um fragmento mural inacabado de um nu masculino de três quartos de comprimento, também de Michelangelo.
Outra das peças mais procuradas é o Retrato de Maffeo Barberini, obra de Caravaggio, pintada por volta de 1598, que retrata o futuro papa Urbano VIII quando ele tinha cerca de 30 anos de idade. A pintura mostra Barberini sentado, emergindo das sombras, com o rosto iluminado e vestido modestamente com uma toga e gorro pretos, segurando um documento na mão esquerda e apontando com a direita, sugerindo uma interação com uma figura fora do campo de visão. Este retrato ficou numa coleção particular em Florença por décadas e foi atribuído a Caravaggio pelo historiador Roberto Longhi em 1963.
A exposição tem obras de outros artistas influentes dos séculos XVI e XVII, como o Retrato do Papa Paulo III, pintado por Ticiano em sua viagem a Roma entre outubro de 1545 e maio de 1546. Essa pintura, na qual o Papa aparece com um olhar astuto e o tradicional camauro vermelho, símbolo de sua autoridade, pertence a uma coleção particular e fica em Lisboa, Portugal.
Outro retrato é o de Clemente VII, feito por Sebastiano del Piombo. De Tintoretto, destaca-se o Retrato do Cardeal Marcantonio da Mula, que demonstra a capacidade do pintor de aliar dignidade ao dinamismo.
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