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OPINIÃO – Da explosão ao atropelamento, do feminicídio à bala perdida: quem consola quem fica?

De vez em quando, a vida faz questão de nos lembrar, muitas vezes de forma cruel, o quão frágil ela é. Nos últimos dias, João Pessoa, Santa Rita e Campina Grande testemunharam tragédias que, embora diferentes nas circunstâncias, carregam a mesma dor irreparável e um recado incômodo: tudo pode acabar num piscar de olhos.

Raissa, uma jovem médica veterinária, cheia de vida, planos e amor pelos animais, viu tudo acabar em um vazamento de gás, um simples acender de luz, e tudo virou fumaça, fogo e desespero. Ela resistiu o quanto pôde, mas a gravidade das queimaduras venceu. A vida, às vezes, é brutalmente aleatória.

No Bessa, em João Pessoa, um trabalhador, o zelador Maurílio, acordou cedo, como fazia todos os dias e estava limpando a calçada do prédio. Uma rotina simples, honesta, interrompida por um carro desgovernado, conduzido por um jovem que, segundo a polícia, havia ingerido bebida alcoólica e voltava de uma festa. O atropelamento foi violento, gravíssimo. E, enquanto a vida se esvaía no hospital, do outro lado da história, o motorista deixava a delegacia após pagar fiança. Vai responder em liberdade, com algumas restrições. E a gente se pergunta: é só isso? A conta fecha?

Em Santa Rita, uma adolescente de 15 anos foi assassinada a facadas pelo ex-namorado. Ela tentava viver, seguir em frente, namorar, existir e foi morta por isso. Uma história que se repete em centenas de lugares todos os dias: o machismo que mata, a violência que não é contida, a omissão que custa vidas.

E, por fim, mais uma vítima da violência urbana e do fogo cruzado. Daniel, um jovem estudante de Campina Grande, saiu de casa para tomar uma vacina na manhã desta segunda-feira (02) e acabou no caminho de uma troca de tiros entre a polícia e bandidos que haviam acabado de assaltar uma casa. Uma bala perdida, uma vida perdida. E aí resta o silêncio, aquele silêncio pesado de quem não sabe se chama isso de fatalidade, de injustiça, ou dos dois.

O mais cruel é perceber que essas histórias não são exceções. São recortes cotidianos do Brasil que sangra. São homens, mulheres, jovens, crianças, idosos, que saem de casa e não voltam. Que deixam de ser pessoas com histórias, afetos, conquistas e sonhos para se tornarem números em planilhas, registros de ocorrências, estatísticas.

Cada uma dessas pessoas era insubstituível para alguém. Raissa não era só uma veterinária, era filha, amiga, profissional admirada. Maurílio não era só um zelador, era parte de uma família que agora precisa reaprender a viver com um vazio que nunca vai se preencher. A adolescente de Santa Rita tinha sonhos, amigos, projetos de vida. Daniel era um estudante, cheio de futuro, interrompido sem aviso.

O que une todas essas histórias é a fragilidade da vida, que, às vezes, se esvai no caos de uma cidade, no descuido, na imprudência alheia ou na tragédia inesperada. É o lembrete de que somos finitos e frágeis. No fim, o que fica é a dor, a saudade e a pergunta que insiste em ecoar: quem consola quem fica?

Thatiane Sonally
PB Agora

FONTE: PB AGORA