8 de jun de 2025 às 11:11
O papa Leão XIV, ao celebrar hoje (8), o domingo de Pentecostes a vinda pública e definitiva do Espírito Santo, pediu uma Igreja que abra “fronteiras” entre os povos e rompa “barreiras”, onde “não podem haver esquecidos nem desprezados”, exortando à unidade e à fraternidade.
“Só somos verdadeiramente a Igreja do Ressuscitado e discípulos de Pentecostes se entre nós não houver fronteiras nem divisões, se na Igreja soubermos dialogar e acolher-nos mutuamente, integrando as nossas diversidades, e se, como Igreja, nos tornarmos um espaço acolhedor e hospitaleiro para todos”, disse Leão XIV na missa que celebrou na Praça de São Pedro, também por ocasião do Jubileu dos Movimentos, Associações e Novas Comunidades.
E acrescentou: “As diferenças, quando o Sopro divino une os nossos corações e faz-nos ver no outro o rosto de um irmão, não se tornam ocasião de divisão e conflito, mas um tesouro comum, do qual todos podemos tirar proveito e que nos coloca em caminho, todos juntos, na fraternidade”.
Aos milhares de peregrinos que se deslocaram a Roma para participar deste grande evento – convocado no âmbito do Ano Santo 2025 – disse que “onde há amor, não há espaço para preconceitos, para distâncias de segurança que nos afastam do próximo, para a lógica da exclusão que vemos emergir, infelizmente, também nos nacionalismos políticos”.
“A Igreja deve tornar-se sempre de novo aquilo que ela já é: deve abrir as fronteiras entre os povos e romper as barreiras entre as classes e as raças. Nela não podem haver esquecidos nem desprezados”, declarou.
Leão XIV, que celebra hoje o seu primeiro mês de pontificado, refletiu sobre o que aconteceu no Cenáculo, quando o Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos e lhes deu “um olhar novo e uma inteligência do coração que os ajuda a interpretar o que havia acontecido e a fazer a experiência íntima da presença do Ressuscitado”.
Realizando no dia de Pentecostes “algo extraordinário na vida dos Apóstolos”: “O Espírito Santo vence o medo, quebra as correntes interiores, alivia as feridas, unge-os de força e lhes dá a coragem de sair ao encontro de todos para anunciar as obras de Deus”.
O Espírito desfaz “o narcisismo que faz-nos rodar apenas em torno de nós mesmos”
Em sua homilia, o papa disse que “o Espírito abre as fronteiras principalmente dentro de nós”, porque “é o Dom que desvela a nossa vida para o amor”, onde a “presença do Senhor desfaz a nossa dureza, o nosso fechamento, o egoísmo, os medos que nos bloqueiam e o narcisismo que faz-nos rodar apenas em torno de nós mesmos”.
“O Espírito Santo vem para desafiar, em nós, o risco de uma vida que se atrofia, sugada pelo individualismo”, observou.
E acrescentou que o Espírito de Deus, “abre-nos ao encontro com nós mesmos, para além das máscaras que usamos; conduz-nos ao encontro com o Senhor, educando-nos a experimentar a sua alegria; convence-nos – segundo as próprias palavras de Jesus há pouco proclamadas – que só se permanecermos no amor, é que receberemos também a força para observar a sua Palavra e, assim, sermos transformados por ela”.
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“Viajantes perdidos e solitários”
O papa também observou com tristeza como, “num mundo onde se multiplicam as oportunidades de socialização, corremos o risco de ser paradoxalmente mais solitários, sempre conectados, mas incapazes de “fazer redes”, sempre imersos na multidão, mas permanecendo viajantes perdidos e solitários”.
Com isto, destacou que, “quando o amor de Deus habita em nós, tornamo-nos capazes de abrirmo-nos aos irmãos, de vencer a nossa rigidez, de superar o medo em relação ao que é diferente, de educar as paixões que se agitam dentro de nós”.
“O Espírito Santo, ao contrário, faz amadurecer em nós os frutos que nos ajudam a viver relações verdadeiras e boas: “amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio””, ressaltou.
Os numerosos e recentes casos de feminicídio
Além disso, Leão XIV deixou claro que “o Espírito transforma também os perigos mais ocultos que envenenam as nossas relações, como os mal-entendidos, os preconceitos, as instrumentalizações”. E acrescentou com um tom mais sério: “Penso também – com muita dor – em quando uma relação é infestada pela vontade de dominar o outro, uma atitude que frequentemente desemboca na violência, como infelizmente demonstram os numerosos e recentes casos de feminicídio”.
Leão XIV continuou sua fala citando a homilia proferida por seu antecessor, o papa Francisco, em 28 de maio de 2023, celebrando o Pentecostes, quando observou que hoje no mundo “há tanta discórdia, tanta divisão!”.
“Estamos conectados e, contudo, vivemos desligados uns dos outros, anestesiados pela indiferença e oprimidos pela solidão”, destacou Leão XIV citando o discurso de Francisco.
Ele ainda lamentou que “as guerras que agitam o nosso planeta são um sinal trágico de tudo isso”.
Por último, invocou “o Espírito do amor e da paz, a fim de que abra as fronteiras, derrube os muros, dissolva o ódio e nos ajude a viver como filhos do único Pai que está nos céus”.
“Irmãos e irmãs: Pentecostes renova a Igreja e o mundo! Que o vento vigoroso do Espírito desça sobre nós e em nós abra as fronteiras do coração, dê-nos a graça do encontro com Deus, amplie os horizontes do amor e sustente os nossos esforços pela construção de um mundo onde reine a paz”, concluiu o papa pedindo que “Maria Santíssima, Mulher do Pentecostes, Virgem visitada pelo Espírito, Mãe cheia de graça, nos acompanhe e interceda por nós”.
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