Um enviado do governo russo viajou à China para tratar de “assuntos
internacionais” neste domingo (25). Andrei Rudenko, vice-ministro russo das
Relações Exteriores foi escalado para a missão representar o país em um
encontro com o ministro das Relações Exteriores chinês, Qin Gang. Oficialmente,
os dois estão tratando de “questões internacionais e regionais de interesse
comum”, como brevemente descrito no site do ministério chinês. O encontro,
porém, tem como pano de fundo o recente cenário de crise interna do governo de
Vladimir Putin e o líder do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin.
O governo de Pequim ainda não se pronunciou oficialmente sobre a rebelião coordenada por Prigozhin e o posterior acordo de recuo – cujos termos incluem a saída do líder do Wagner para Belarus, país vizinho à Rússia. À agência de notícias Reuters, o especialista militar chinês e comentarista de TV Song Zhongping disse que “a China apoiará a Rússia, sem enfatizar nenhuma interferência em seus assuntos internos”.
Analistas internacionais, porém, acreditam que o movimento de Prigozhin pode manchar a imagem de Putin frente a Pequim. A percepção mais frequente é a de que a marcha dos rebeldes armados, que chegaram a poucos quilômetros de Moscou, deve ser encarada como um sinal de incompetência do líder russo.
Fraqueza e incompetência
“Em particular, é provável que tenham novas dúvidas sobre o
quão unificadas são as forças russas, bem como a capacidade geral que Putin tem
de controlar seu regime. A China olhará com grande preocupação para os eventos
recentes na Rússia”, avaliou Rana Mitter, professora de história e política da
China moderna na Universidade de Oxford.
Sari Arho Havren, membro associado do Royal United Services
Institute (RUSI), um think tank britânico especializado em relações exteriores
chinesas, lembrou que o Partido Comunista Chinês tem o medo do caos e da
instabilidade “gravado em seu DNA”. “Xi Jinping provavelmente vê o motim do
grupo Wagner como um sinal de incompetência grave. A rebelião claramente
prejudicou o prestígio de Putin, e a principal consequência é o quão fraca a
estrutura de poder da Rússia agora aparece aos olhos dos outros”, completou.
Passar a imagem de líder fraco diante de Pequim pode ser um duro golpe para Putin, que pessoalmente passou anos construindo laços entre a Rússia e a China, em um cenário em que Moscou depende cada vez mais de apoios políticos e crescentes laços comerciais. A China se tornou o parceiro internacional mais importante da Rússia desde a invasão da Ucrânia em fevereiro passado. Putin e Xi se chamam de “amigos” e se apresentam como uma dupla poderosa capaz de enfrentar a hegemonia dos EUA no cenário global. Na véspera da invasão, em fevereiro de 2022, os dois países firmaram uma parceria estratégica “ilimitada”.
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