Em amplo relatório sobre o estado de tráfico de drogas
publicado neste domingo (25), o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e
Crime (UNODC) concluiu que as atividades dos narcotraficantes estimulam a
extração de madeira e mineração ilegais na Amazônia. Os crimes em conjunto
também incluem ocupação de terras, tráfico de animais silvestres, entre outros.
Um capítulo inteiro do relatório é dedicado à ameaça do
mercado negro das drogas à Amazônia e aos povos que vivem nela. “Oferecemos uma
análise de quatro países: Brasil, Colômbia, Peru e Bolívia”, detalhou Chloe
Carpentier, chefe da Seção de Investigação sobre Drogas, à ONU News. A
floresta “está na intersecção de múltiplas formas de crime organizado, que
aceleram a devastação e degradação do meio ambiente, com muitas implicações em
termos de segurança pública, de saúde pública, mas também individual e outros
impactos negativos sobre as populações”, explicou a investigadora.
Para ela, um fator contributivo para o problema é que “a
região tem pouca presença do Estado, muita corrupção e uma economia baseada em
informalidade”. Indígenas e outros habitantes da região sofrem não apenas com a
violência, mas com o envenenamento pelo mercúrio usado na mineração.
Outras conclusões
Na década que antecedeu o ano de 2021, o número de usuários de drogas aumentou 23% no mundo, diz o UNODC. Naquele ano, uma a cada 17 pessoas no planeta usou ao menos uma droga. São quase 300 milhões ao todo, mais que toda a população do Brasil.
Doenças que aproveitam as seringas das drogas injetáveis
para se espalhar estão aumentando em incidência, como a hepatite C. Metade das
pessoas que usam esse tipo de droga está infectada com a doença. Segundo a
organização mundial da saúde, quase um quarto das novas infecções com a hepatite
são atribuíveis à injeção de drogas.
Há cinco vezes mais homens que mulheres usando as seringas
para consumir substâncias nocivas. Na África, eles são 70% das pessoas que pedem
ajuda para lidar com o vício. Também são 70% os africanos em tratamento que são
menores de 35 anos.
O relatório foi publicado a tempo do Dia Internacional
Contra o Abuso de Drogas e o Tráfico Ilícito, na segunda-feira (26). Em
mensagem para marcar a data, Antônio Guterres, secretário-geral da ONU, ressaltou
que os viciados em drogas são duplamente vitimados pelas substâncias e pelo
estigma social. O estigma acaba dificultado a busca de tratamento tanto para o vício
em si quanto por doenças associadas a ele, como Aids e as hepatites. Guterres
também expressou preocupação pela escalada na produção de drogas sintéticas
como a metanfetamina e o fentanil, mais perigosas e com maior potencial de
vício.
Pessoas que sofrem com transtornos de uso de substâncias atingiram
o número de 39,5 milhões, um aumento de 45% em dez anos.
A diretora-executiva do UNODC, Ghada Waly, disse que “estamos
testemunhando a um crescimento contínuo do número de pessoas que sofrem com transtornos
de uso de drogas no mundo todo, enquanto o tratamento está deixando de alcançar
todos que precisam dele”. Waly, egípcia que também tem o título de subsecretária-geral
da ONU, insta o mundo também a “intensificar as respostas contra organizações
do tráfico de drogas que estão explorando conflitos e crises globais para
expandir o cultivo e produção de drogas ilícitas, especialmente de drogas
sintéticas, alimentando mercados ilícitos e causando mais prejuízo às pessoas e
comunidades”.
O relatório não trata apenas de medidas enérgicas contra drogas ilícitas, mas também menciona iniciativas como o uso medicinal da maconha. Além disso, o UNODC expressa esperança de um banimento de drogas no Afeganistão ajudar a diminuir o consumo global de opioides, mas lamenta que isso poderia levar ao sofrimento de agricultores que não têm alternativas ao cultivo da papoula, além do aumento da produção da metanfetamina, que já é intensa no país controlado pelo Talibã.
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