Um dos grandes destaques da convocação da seleção brasileira para os próximos compromissos pelas eliminatórias da Copa do Mundo 2026, o atacante Estêvão, do Palmeiras, ganhou 3kg desde sua promoção ao elenco principal do Alviverde, no final do ano passado.
O trabalho foi feito para que o garoto de apenas 17 anos conseguisse suportar os fortes “trancos” do futebol profissional, além da insana maratona de jogos do calendário brasileiro.
Quem comandou as ações nos bastidores foi Mirtes Stancanelli, nutricionista do Verdão, que fez trabalho similar com outros jogadores do time alviverde, como o atacante Flaco López.
Em entrevista à ESPN, Mirtes afirmou que, em muitos casos, precisa “ensinar” os atletas a comerem coisas novas, incentivando a degustação de alimentos importantes que eles não têm costume de ingerir.
A nutricionista, porém, diz que nada é “pressionado”, com os jogadores entendendo pouco a pouco a importância da alimentação balanceada para a profissão.
“O Estêvão chegou como os outros também chegaram e se impressionaram com os processos que nós temos aqui. Esses processos são como se eles entrassem numa trilha de treinos mais intensos e controlados, com jogos muito sequenciais, mas também com apoio da alimentação para eles se desenvolverem. Foi algo novo para todos eles”, apontou.
“A gente tem que ficar ensinando os porquês, colocando algumas coisas nos pratos e falando: ‘Deguste… Se você não conseguir degustar, se você não gostar, você pode jogar fora’. Nada é pressionado, nada disso. Mas, chegando num ponto em que ele passando pela trilha inteira e conseguindo fazer todas as refeições, o volume de comida e a qualidade dessa comida, ele se sente melhor. Então, a gente ganha pontos com isso”, acrescentou.
No caso específico de Estêvão, Mirtes explicou que tanto clube quanto atleta notaram que o atacante precisava ganhar corpo para competir no futebol profissional contra atletas mais fortes.
Ao mesmo tempo, o canhoto também necessitava de uma boa alimentação para aguentar os puxados treinos da comissão de Abel Ferreira, além da maratona de jogos e viagens pelo Brasil e pela América do Sul.
Com isso, a nutricionista “liberou” até mesmo alimentos como pudim de leito condensado, um dos doces favoritos de Estêvão, antes dos jogos, tanto para fornecer calorias quanto para “animar” o garoto.
“Ele sabia que precisava ganhar um pouco mais para suportar os jogos, treinos, etc., principalmente no estágio de recovery, que estava um pouco menor, por conta da estrutura corporal e do metabolismo dele. Nesse sentido, ele foi ganhando devagar, entendendo isso, peso após peso, e se não me engano foram 3kg a mais até agora, porque estamos indo devagar com ele. Desses 3kg, teve um aumento pequeno de percentual de gordura, que é fundamental, e o ganho de massa”, ressaltou.
“E não é que ele passou nessa trilha do nada, não foi obrigado de uma hora para outra. Ele foi com o tempo vendo as conquistas que ele tem, não só de campo, mas conquista de melhor alimentação, alimentos que ele nunca comia, a gente trabalhou e treinou nisso. Alimentos pré-jogo, inclusive, que era algo que ele não comia, e são coisas que ele gosta, como pudim de leite condensado, que ele gosta muito (risos). Então, três horas antes, por que não incluir para ele se animar?”, seguiu.
“Então, essa trilha que a gente chama de anabólica, para dar mais sustentabilidade aos treinos, ele aderiu muito bem, porque ganhou um certo peso também. E esse peso ele foi conquistando dia após dia”, complementou.
Grupo de WhatsApp da marmita
A alimentação regrada de Estêvão, aliás, não se restringe nos períodos em que ele está a serviço do Verdão, seja na Academia de Futebol ou nos jogos dentro e fora de casa.
De acordo com Mirtes, o trabalho segue na casa dos atletas, com marmitas especialmente preparadas para cada jogador.
No caso do atacante, inclusive, ele é “monitorado” através de um grupo de WhatsApp, no qual seus pais reportam à equipe de nutrição do Palmeiras se ele está consumindo os alimentos de forma correta – principalmente aqueles mais “difíceis”, como verduras e frutas.
“Essa trilha de trabalho vai até a residência. Então, a gente pega em várias situações, desde o campo, depois que sai da Academia e vem para o campo, no avião, no ônibus, em todos os lugares e situações, e também em casa. É muito interessante, porque a gente teve que passar para ele a quantidade certa que ele deveria comer, que era algo que ele estava perdido, e também aspecto qualitativo. Então, o que eu fiz? Organizei uma reunião com ele e os pais dele, e nós combinamos o seguinte: que eu ia preparar as marmitas de acordo com o que ele tinha que comer quantitativamente em 24 horas e também qualitativamente. E aí nessa qualidade, incluímos verduras, legumes e frutas que um adolescente normalmente não come, é bem difícil (risos)”, brincou.
“A gente vai trabalhando nisso. Nós conversamos e comecei a solicitar as marmitas. Elas são direcionadas, o pessoal faz de acordo com a minha prescrição e fica 15 dias. Aí tenho a resposta da mãe. A gente tem um grupinho (de WhatsApp) e eu fico tendo a resposta da mãe, do pai e dele também, a gente fica nessa brincadeira. E como ele tem dificuldade em comer alguns tipos de alimento, essa situação deu para ajudar bastante, porque todo dia é um negócio diferente, para que ele possa degustar, interpretar aquela degustação, saber o sabor que tem. A gente está preparando o Estêvão nesse sentido também”, argumentou.
A profissional ainda conta que, de início, Estêvão “torcia o nariz” para várias comidas saudáveis, preferindo o tradicional “arroz, feijão, farofa e carne”.
No entanto, ele passou a aceitar pouco-a-pouco alguns alimentos mais “complicados”, embora essenciais, como os temidos brócolis.
“Acho que tudo o que a gente colocou o Estêvão gostou. Antes, ele era muito de arroz, feijão, farofa e carne, mas frutas ele começou a consumir, brócolis é meio difícil (risos)… Mas as folhas verdes escuras ele começou a comer um pouco mais, porque tem a ver com alguns detalhes que estou trabalhando no metabolismo dele”, salientou.
“Eu ensino que é muito importante. Então, ele acabou pegando um pouquinho de tudo. Basicamente foi isso, verduras e legumes, era o que ele não consumia e está aprendendo a comer agora”, finalizou.
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