Salão lotado, som alto e diversos personagens do esporte nacional reunidos na cerimônia de celebração da nova gestão do Comitê Olímpico do Brasil (COB). Entre uma conversa e outra, Jorge Bichara consultava o celular para ver o placar das quartas-de-final da Copa Brasil de Vôlei Masculino, entre Blumenau e Minas. O time mineiro levou a melhor.
“Tenho muito prazer em trabalhar com o voleibol. Gosto muito mesmo e sou feliz lá dentro. Sou bem tratado e reconhecido. Estou dando meu melhor para que o voleibol evolua no Brasil”, contou o diretor técnico da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), que retorna ao COB como consultor técnico de esportes após quase 3 anos de sua saída repentina da entidade.
Bichara trabalhou no Comitê Olímpico do Brasil de 2005 a 2022, liderando a área de esportes no ciclo de Tóquio-2020, quebrando o recorde de medalhas nos Jogos Pan-Americanos de Lima, em 2019 (recorde que foi novamente superado em Santiago-2023) e nas Olimpíadas do Japão (este permanece até hoje). No entanto, foi desligado em março de 2022.
“O motivo da minha saída foi um desentendimento com o ex-presidente (Paulo Wanderley, que acaba de deixar o cargo). Eu respeito a posição dele, mas eu não acreditava naquele modelo de divisão interna. Porém, está tudo bem e segue a vida. Eu chego com a bateria carregada e com a conta zerada, construindo agora uma relação de confiança com os profissionais que eu encontrei lá dentro, muitos que já estavam na minha e outros novos.”
Bichara vai dividir seu tempo nas duas funções até outubro, quando vai sentar novamente com o novo presidente do COB, Marco La Porta, e Radamés Lattari, dirigente da CBV, para definirem os próximos passos. Enquanto isso, Emanuel Rego, campeão olímpico no vôlei de praia e novo diretor geral do COB, ocupará o posto de diretor de esportes da entidade nacional de forma interina.
O foco de Bichara para esse primeiro momento de volta à velha casa está bem claro na mente do apaixonado por esportes.
“O primeiro ano do ciclo olímpico carrega uma série de tarefas: analisar o cenário internacional, identificar no Brasil o nível dos jovens em ascensão e sentar com todos os nossos atletas em destaque para entender em qual momento eles estão.”
“Precisamos entender em termos de disposição para encarar mais quatro anos de preparação para uma disputa olímpica. Além disso, também é o momento de recuperar atletas que estão desgastados fisicamente ou que precisam passar por algum tipo de cirurgia.”
Essa tarefa não será fácil, uma vez que grandes nomes do Brasil já anunciaram que não vão mais competir em Jogos Olímpicos, como é o caso de Mayra Aguiar, do judô, e Beatriz Ferreira, do boxe.
O plano para Rebeca
Além disso, a maior medalhista brasileira em Olimpíadas, Rebeca Andrade, disse que não vai competir mais no solo, aparelho em que foi campeã olímpica em Paris, por ser muito desgastante para o seu corpo. Nesse último caso, Bichara já começou a trabalhar e tem um plano.
“Eu conversei com a Rebeca nesta quinta (30) pela manhã. A proposta com ela é trabalhar ano a ano. Ela tem 6 medalhas olímpicas e inúmeros títulos internacionais. A sua representatividade no esporte ultrapassou uma conquista de medalha. Ela tem um poder de influência e atração de jovens muito importante para o Brasil. Os exemplos que ela transmite podem contribuir para o recrutamento de muitos jovens.”
Bichara destacou muito a importância da ginasta para o esporte nacional, uma vez que ela se tornou a principal figura do Time Brasil nos últimos 8 anos. Pensando no longo prazo e em Los Angeles, a palavra do dia é calma.
“A participação dela em competições futuras vai depender muito do trabalho que tem que ser feito com muita calma. A Rebeca trabalhou muito nesses últimos anos, precisamos entender o momento em que ela está e trabalhar em conjunto com ela para que ela se sinta em condições de representar o Brasil, como ela gosta de representar.”
“Ela precisa se sentir apta a fazer elementos com o nível de dificuldade que a ginástica mundial exige para que ela se sinta bem. Eu encontrei uma Rebeca feliz e consciente do seu momento. Eu dividi isso com ela. Vamos ano a ano; aos pouquinhos, vamos ver como ela se sente.”
Pensando no presente, de olho no futuro
Além das grandes estrelas, Bichara também está pensando nas novas gerações de talentos para evitar que apareça uma lacuna entre os grandes atletas brasileiros que caminham para o seu final de carreira.
“É uma missão difícil. A gente não pode ter uma lacuna de gerações. As jovens precisam conviver com a Rebeca ainda treinando para entenderem e aprenderem que a Rebeca não treina bem todo dia. Mesmo nos dias em que ela treina mal, ela criou mecanismos para evoluir mesmo assim. Os jovens precisam entender isso como um processo, algo normal no alto rendimento. A ideia do COB é trabalhar com as confederações para não deixar essas lacunas aparecerem e aumentar a base de atletas.”
Nada melhor do que um início de ciclo olímpico para justamente garimpar e desenvolver esses atletas que serão o futuro do esporte brasileiro.
“É o momento de dar oportunidades para jovens ganharem confiança e experiência. Tudo isso trabalhando com as confederações e clubes para que seja um ano de abertura de oportunidades. O primeiro ano do ciclo se caracteriza pela tentativa de ampliar o seu olhar para os atletas jovens que podem participar da seleção no futuro.”, concluiu Bichara.
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