Portal Paraíba-PB

Informação com credibilidade!

Como Liverpool criou ‘máquina’ que está perto de temporada histórica

Líder isolado da Premier League com 67 pontos, o Liverpool recebe o Southampton neste sábado (8), às 12h (de Brasília), em partida com transmissão ao vivo no Disney+. A meta, claro, é tentar se distanciar ainda mais da concorrência e seguir firme na busca por mais um título do Campeonato Inglês.

Caso os Reds de fato fiquem com a taça, não faltarão pessoas a quem agradecer, desde o técnico Arne Slot até mesmo o craque Mohamed Salah, principal nomes do Liverpool na atual temporada, com 30 gols em 40 partidas.

Porém, o departamento médico também merece uma grande parcela de elogios. Parece até imperceptível, mas, no momento mais intenso da temporada, com jogos em cima de outros, apenas os defensores Conor Bradley e Joe Gomez, além do meio-campista Tyler Morton, não estavam disponíveis.

Manter o elenco quase sempre disponível, em meio ao implacável calendário, é um feito notável. Muitos dos rivais do Liverpool, incluindo o segundo colocado Arsenal, saíram-se piores com lesões. Mas o clube teve apenas sorte? Ou há mais nos bastidores?

De Klopp para Slot

No final de fevereiro de 2024, o Liverpool estava sem reservas e foi forçado a depender de joias da base para preencher o banco de reservas. De acordo com o site Premier Injuries, o time dirigido por Jürgen Klopp na época perdeu 21 jogadores diferentes por lesão ao longo da campanha passada. Apenas o Tottenham (22) sofreu mais.

“Seria útil se tivéssemos um pouco mais de um jogador para cada posição”, disse Klopp em uma entrevista coletiva em fevereiro de 2024. “Não consigo me lembrar de um dia que tenha sido fácil, sem problemas”.

Os ausentes do Liverpool perderam um total de 1.383 dias na temporada passada, significativamente mais do que o campeão Manchester City (672) e o vice-campeão Arsenal (898). Nos últimos estágios da campanha, ter uma carga tão pesada de lesões visivelmente cobrou seu preço, com jogadores importantes como Salah e Szoboszlai lutando para recuperar a forma.

“O cenário de lesões pode mudar num piscar de olhos”, disse Ben Dinnery, fundador da Premier Injuries, à ESPN. “Uma vez que você está sofrendo lesões, quase se torna um círculo vicioso quando você é forçado a escalar jogadores que não estão 100%. São necessárias apenas algumas lesões para ver esse efeito cascata”.

A atenção de Arne Slot para com os detalhes ajuda a explicar o mérito dos Reds. Quando o diretor esportivo Richard Hughes começou a tarefa de procurar o sucessor de Klopp, o histórico de lesões extremamente impressionante de Slot foi um dos fatores que o diferenciaram dos demais.

Em suas três temporadas em Roterdã, os níveis de disponibilidade dos jogadores do Feyenoord estavam acima de 90%, graças a uma série de inovações para tentar manter seu time em boa forma.

“Quando Slot chegou, o time não estava acostumado a jogar três partidas por semana, então na pré-temporada ele organizou muitos amistosos”, disse Sinclair Bishop, da ESPN Holanda.

“Algumas pessoas disseram que seria perigoso porque colocaria os jogadores em risco de lesões, mas Slot disse que os jogos ajudariam a criar muita energia e preparariam o time para a intensidade da temporada, jogando na Europa e na Copa da Holanda, bem como na Eredivisie. O time foi muito bem administrado e, ao longo de três temporadas, eles tiveram muito poucas lesões”.

“Nesta temporada, agora que Slot e seu time [de bastidores] se foram, há muitas lesões porque a filosofia é muito diferente. O Feyenoord não jogou muitas partidas na pré-temporada e, quando jogou, o time era frequentemente trocado, então os jogadores não se acostumaram a jogar a cada três dias”.

Outra das armas mais potentes de Slot no Feyenoord foi seu chefe de desempenho, Ruben Peeters. O belga, que tem mestrado em ciências esportivas pela KU Leuven, teve um período de seis anos no KRC Genk antes de se juntar ao Feyenoord em 2021.

Com Andreas Kornmayer – o antigo chefe de condicionamento físico do Liverpool – tendo deixado Anfield, Slot não perdeu tempo em contratar Peeters como o principal treinador de desempenho físico do clube. Uma variedade de novas medidas foi colocada em prática para garantir que os jogadores sejam mantidos em ótimas condições.

Dos treinos ao sono

Uma grande ênfase é colocada no processo de “despertar do corpo”, que envolve sessões de ioga e hidroterapia de manhã. Os jogadores agora precisam passar mais tempo no centro de treinamento, chegando cedo para tomar café da manhã juntos e passando mais tempo na academia seguindo programas individuais personalizados.

Slot também permite que seus jogadores fiquem em casa na noite anterior a uma partida, em vez de dormir em um hotel, como faziam com Klopp. “Pessoas que têm mais conhecimento sobre isso do que eu dizem que você sempre dorme melhor na sua própria cama do que em uma cama de hotel”, disse Slot, em uma entrevista coletiva em fevereiro passado.

“E o sono é uma parte muito importante para obter o melhor desempenho possível. É bom para eles estarem em casa com suas famílias, mas também, na opinião das pessoas que me dizem essas coisas, eles estão mais bem preparados para os nossos jogos”.

Embora seja apenas um pequeno ajuste, parece estar tendo o efeito desejado, e é essa atenção aos detalhes que ajudou a definir a gestão do técnico em Roterdã. Slot e sua comissão trabalharam para criar uma cultura semelhante no Liverpool e, até agora, sua abordagem rendeu dividendos em campo, com seu time carregando imensa vantagem no topo da tabela da Premier League.

Mas, para além do trabalho do DM e da comissão técnica, existe ainda o empenho dos atletas em estarem no auge da forma física mesmo em meio ao intenso calendário.

Jogadores ‘compram’ ideia

Dos 24 jogadores que atuaram pelo Liverpool na Premier League nesta temporada, 11 sofreram lesões que os afastaram de pelo menos uma partida. Essas ausências se combinam para igualar um total de 68 jogos da liga perdidos nesta temporada.

Compare isso com o Arsenal, que também usou 24 jogadores na primeira divisão nesta temporada, e o contraste é gritante: 18 nomes separados combinando para perder um total de 125 jogos da liga. O Manchester City, enquanto isso, usou 27 atletas, com 14 perdendo, em conjunto, 112 jogos da liga.

O Liverpool também conseguiu manter seus jogadores mais importantes em forma, com Salah, Virgil van Dijk e Ryan Gravenberch entre aqueles que atuaram em todas as partidas da Premier League nesta temporada – ainda que o goleiro Alisson e o atacante Diogo Jota tenham ficado afastados por períodos significativos.

“No final das contas, você quer manter esses jogadores de alto nível em forma e disponíveis”, diz Dinnery. “Então, quando há lesões, você quer que esses jogadores que estão no banco entrem e façam uma transição perfeita para o time”.

“Acho que Salah é um desses caras, ao lado de Cristiano Ronaldo e Lionel Messi, que são quase aberrações da natureza em termos de disponibilidade e capacidade de manter esses níveis de desempenho. Alguns jogadores realmente têm um desempenho muito bom com essa carga alta. Para alguém como Salah ter um desempenho contínuo como ele tem, é uma vida inteira em construção para otimizar seu corpo e garantir que ele esteja sempre pronto para o próximo jogo”.

Não é só Salah, no entanto, que merece elogios por seu comprometimento pessoal em permanecer em condições impecáveis. Ao longo da temporada, Slot deu crédito a vários jogadores por assumirem a responsabilidade por sua própria forma física e seguirem diligentemente seus programas individuais.

“A única coisa que sei é que, desde o momento em que entrei, esses jogadores se esforçaram muito para se manterem em forma”, disse o holandês, em outubro.

“Eu disse isso muitas vezes, nossa equipe de desempenho e equipe médica é uma das melhores do mundo – o que é normal se você está em Liverpool porque é um dos melhores clubes do mundo”, completou.

“Mas o principal é que os jogadores comprem isso, porque eles têm que fazer o trabalho e se recuperar, entrar em banhos de gelo e todas essas coisas que estamos pedindo. No final, é sempre sobre os jogadores. Eles têm que se esforçar para permanecer disponíveis”.

Esses sentimentos foram compartilhados por Van Dijk, de 33 anos, que jogou mais minutos do que qualquer outro jogador da Premier League nesta temporada.

“No final das contas, muito disso é responsabilidade sua, porque temos as ferramentas para nos preparar para os jogos, nos recuperar, mas é o que você faz com seu tempo livre”, disse ele quando questionado pela ESPN sobre a excelente forma física do Liverpool.

“O que você faz em casa para estar pronto para o próximo jogo nos próximos dias? Definitivamente, isso é crédito para os jogadores, todos conectados ao Liverpool que estão nos ajudando a ser o nosso melhor, mas eu prefiro ter crédito no final da temporada, quando há algo para comemorar”.

Indo para a reta final da temporada, o Liverpool se encontra em uma posição extraordinária. E, se o time de Slot conseguir trazer mais troféus para Anfield nos próximos meses, o impressionante histórico de lesões do time deve ser considerado um dos seus maiores sucessos.

FONTE: ESPN