O Equador despediu-se nesta sexta-feira (11) de Fernando Villavicencio, candidato presidencial assassinado a tiros após participar de um comício eleitoral há dois dias, o que causou comoção dentro e fora do país, que vive uma grave crise de segurança.
Depois de um velório particular, ao qual nem mesmo parentes
próximos, como a mãe de Villavicencio, tiveram acesso, um cortejo fúnebre
discreto levou o caixão com o corpo do candidato de uma funerária até o
cemitério de Monteolivo, no norte da capital equatoriana, Quito.
“Meu pai colocou sobre si todo o peso da corrupção de um
país, mas vejo que ele não está sozinho, que há muitas pessoas adoráveis aqui o
acompanhando”, disse a jornalistas na entrada do cemitério uma das filhas do político
e jornalista, Tamia Villavicencio, que também homenageou o pai com uma canção,
enquanto segurava um retrato pintado dele.
Villavicencio foi assassinado na noite da última
quarta-feira (9) a tiros quando entrava em um carro após participar de um
comício em uma escola. Seis pessoas – todas colombianas – foram presas pelo
crime, mas ainda não se sabe quem está por trás da ordem para matá-lo.
Ele havia relatado ameaças de morte nos últimos dias, depois
de dedicar parte de sua atuação política a denunciar a corrupção e se tornar um
inimigo ferrenho do ex-presidente Rafael Correa (2007-2017), com base em suas
investigações jornalísticas e denúncias.
“Ele sempre me disse que a única proteção é que não tinha
medo, que se algo tivesse que acontecer, aconteceria”, disse Tamia, lembrando
que na última conversa que tiveram, o candidato reconheceu, indo às lágrimas,
que tinha ido mais longe do que jamais havia pensado.
O dia de despedida foi marcado por disputas familiares, pois
alguns parentes próximos – a mãe, irmãos, tias, tios e sobrinhos – reclamaram
tanto na funerária quanto no cemitério que a esposa do candidato, Verónica
Sarauz, com quem ele não vivia há seis anos, não permitiu que eles tivessem
acesso para se despedirem.
No entanto, uma mudança de decisão permitiu que o caixão
fosse levado do cemitério para o Centro de Exposições de Quito, onde tudo
estava pronto para que apoiadores dessem o último adeus ao político em um
velório aberto.
Com orações, punhos erguidos, flores e, acima de tudo,
lágrimas, muitas pessoas fizeram fila para passar pelo caixão, coberto por uma
bandeira branca com o logotipo do partido de Villavicencio, o Constrói, e uma
imagem de seu rosto.
Houve tumulto quando um grupo de simpatizantes que estava do
lado de fora começou a gritar para tentar acelerar a entrada e tentou arrombar
um portão. A polícia interveio jogando spray de pimenta, que atingiu outros
simpatizantes e jornalistas que também estavam na porta do centro de
convenções.
Gritos e críticas contra Rafael Correa foram uma constante
entre os que foram ao velório, e muitos lembraram das críticas e denúncias de
Villavicencio durante o governo do ex-presidente, que negou veementemente por
meio de suas redes sociais ter qualquer ligação com o crime.
Apoiadores de Villavicencio também acreditam que o Estado
falhou com ele.
É “um crime político e um crime de Estado, porque quando o
Estado não te protege, o Estado é culpado”, alegou uma apoiadora do candidato
assassinado, María Beatriz Tinajero, que prestou sua última homenagem.
Outra questão que permanece sem resposta é quem substituirá
Villavicencio nas eleições marcadas para o próximo dia 20. O partido Constrói
ainda está decidindo o nome e consultando o Conselho Nacional Eleitoral (CNE)
sobre a mudança.
“Estamos agora com esse luto e vamos mantê-lo até terminarmos o funeral. No entanto, estamos fazendo algumas consultas junto ao CNE para que, dentro do prazo, possamos indicar uma pessoa”, disse nesta sexta-feira o candidato a deputado pela legenda e ex-ministro do Interior, general Patricio Carrillo.
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