9 de mai de 2025 às 17:24
“Eu acho que ele já mostrou no início do pontificado que ele não é Francisco. Ele é Leão XIV”, disse o arcebispo de Brasília, dom Paulo Cézar Costa, na coletiva de imprensa com os cardeais brasileiros hoje (9) no Pontifício Colégio Brasileiro, em Roma, sobre a eleição de Leão XIV.
“Vai ter a continuidade com o papa Francisco, mas também a descontinuidade. Eu acho que os gestos já falam e ele mostra bem quem ele é”, disse dom Paulo, ressaltando que as formas, os gestos, as insígnias já “mostram que ele não é Francisco”.
Unidade na descontinuidade
Para dom Paulo, há uma grande continuidade entre os papas depois do Concílio Vaticano II que é “tratar as grandes questões da humanidade”.
Leão XIV parece que manterá a continuidade, diz dom Paulo, pois “se nós olharmos o próprio nome que ele escolheu, remete a toda a questão da doutrina social da Igreja”.
Ele se referia à encíclica Rerum novarum, sobre a condição dos operários, publicada pelo papa Leão XIII em 1891, que deu início à doutrina social da Igreja.
Pelo nome escolhido, Leão XIV, “já mostra que é um papa que possivelmente vai continuar na linha de Francisco, olhando para as grandes questões da humanidade, não só na linha de Francisco, mas na tradição dos grandes papas do pós-concílio”.
Para dom Paulo, a descontinuidade está em que o cardeal Robert Prevost “tem todo um outro caminho, outra formação intelectual” e não pode ignorar o próprio caminho percorrido e a própria história, “a nação de onde vem, onde trabalhou, sua visão de mundo”.
Outro tema importante que o papa terá de enfrentar, segundo dom Paulo, será o da unidade da Igreja. “Como a sociedade hoje é uma sociedade polarizada, também a Igreja, no seu interno, tem sua polarização. Não é que a Igreja esteja dividida”, disse ele, mas ela “vive na história”.
Segundo o arcebispo de Brasília, Leão XIV vai “olhar para o interno” para fazer com que “a Igreja caminhe cada vez mais unida”. “O papa é aquele que tem a responsabilidade de confirmar os irmãos na fé, é aquele que tem a responsabilidade também pela unidade da Igreja”.
Sobre o tema da unidade e sobre quais pontes são as mais urgentes para o papa construir agora, o arcebispo de Porto Alegre (RS), dom Jaime Spengler, disse que “precisamos sim promover a unidade entre nós”, pois há “sinais que preocupam”.
“Quem não promove a unidade, ou que fere a unidade, tem um outro nome. Que eu não ouso repetir. Ou expressar. Então, talvez a grande ponte a ser construída é da unidade”, disse dom Jaime.
“O Santo Padre é a referência da unidade na igreja. É o fundamento”, disse dom Jaime, acrescentando que uma mostra de que a unidade interna da Igreja é uma das pontes mais urgentes a serem construídas são as palavras do papa ontem (8) na bênção urbi et orbi, quando ele falava de uma “Igreja unida” que busca “a paz e a justiça”.
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Leão XIV tem grande sensibilidade para com as questões sociais
O arcebispo de Manaus (AM), dom Leonardo Steiner, disse que “as questões sociais sempre estão presentes na Igreja e o papa tem uma grande sensibilidade para isso”.
Ele lembrou que o papa Leão XIV, foi bispo de Chiclayo, no Peru, “uma diocese bastante pobre e ele se dedicou muito aos pobres”. Portanto, “ele certamente não vai se eximir dessa questão toda que tem a ver com a questão dos pobres, com as periferias, com os povos originários, com a questão do meio ambiente, onde a terra está sofrendo, onde as pessoas estão sofrendo”.
“É um homem que tem muita sensibilidade”, continuou dom Leonardo. “É claro que devagarinho vai entrando dentro desse mundo todo, como fez papa Francisco, como fez Bento, dentro da perspectiva de cada um”.
“Ele vai nos ajudar a trilhar esse caminho, que é o caminho da paz, mas é o caminho também da liberdade e da libertação”, disse.
O papa Leão XIV é mais peruano que americano
O papa Leão XIV é “mais peruano que americano”, disse o arcebispo de São Paulo (SP) dom Odilo cardeal Scherer, destacando a trajetória universal do papa que nasceu em Chicago, nos EUA, morou em Roma, como prior da Ordem dos Agostinianos visitou comunidades em países de todo o mundo e foi missionário por anos no Peru, onde também exerceu seu ministério episcopal.
Como ele tem cidadania peruana, podemos dizer que temos um papa latino-americano do Peru, porque era bispo e missionário ali, como já foi bem lembrado”, disse o arcebispo de Salvador (BA), dom Sérgio da Rocha. “Isso mostra cada vez mais a importância e a responsabilidade que nós temos como Igreja na América Latina, uma caminhada pastoral de relevância internacional”.
Sobre as acusações de encobrimento de abusos
A primeira pergunta da coletiva de imprensa foi do jornalista Diego Amorim, da Nova Brasil e do grupo Tati de comunicação, sobre o que os cardeais achavam sobre como o papa Leão XIV vai lidar com as acusações contra ele sobre má gestão de casos de abusos sexuais quando era bispo no Peru.
“Não tenho absolutamente conhecimento nem de comentários”, esquivou-se dom Odilo. “Agora, precisa ver se existem as acusações, que acusações são, se essas acusações foram esclarecidas, se têm fundamento, portanto a partir simplesmente de um comentário é difícil a gente dizer algo”.
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“Eu acho que é temerário a gente começar a escrever, dizer, sem a gente ter o fundamento das coisas porque é muito sério a gente carimbar uma pessoa com um determinado conceito sem a gente ter a mínima segurança da procedência ou do que foi feito e se eventualmente houve tais acusações, eu não estou em condições de responder a esta questão”.
Na coletiva participaram seis dos sete cardeais eleitores brasileiros: o arcebispo de Porto Alegre (RS), dom Jaime Spengler; o arcebispo de Salvador (BA), dom Sérgio da Rocha; o arcebispo de Manaus (AM), dom Leonardo Steiner; o arcebispo de São Paulo (SP), dom Odilo Scherer; o arcebispo do Rio de Janeiro (RJ), dom Orani João Tempesta e o arcebispo de Brasília (DF), dom Paulo Cezar Costa. Dom João Braz de Aviz, prefeito emérito do Dicastério dos Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, também participou do conclave, mas não esteve na coletiva. O arcebispo emérito de aparecida (SP), dom Raymundo Damasceno, também esteve na coletiva embora não seja mais eleitor por ter mais de 80 anos.
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