9 de jun de 2025 às 14:59
Rótulos comumente aplicados aos papas não se aplicam a Leão XIV. Ele não é um revolucionário como Francisco, nem um restaurador como Bento XVI.
Os termos “reformista” e “reacionário” também não lhe cabem.
O que está lentamente ganhando destaque um mês depois de sua eleição em 8 de maio é uma mudança geracional na liderança. Um pontificado “original”, pode-se dizer, liderado por um pastor silenciosamente capaz que prioriza a continuidade, mas também tem o comportamento fundamentado, a aptidão para construir pontes e a visão independente para definir seu próprio curso.
“Geracional”, porque ele é o primeiro papa desde o Concílio Vaticano II que não era padre nem estava no seminário na época do Concílio. Isso dá ao primeiro papa nascido nos EUA um certo distanciamento dos grandes debates e controvérsias conciliares do fim do século XX e início do século XXI. Nesse contexto, sua escolha de um nome papal tem um significado adicional, visto que ele sabiamente se associou ao último que adotou o nome, Leão XIII, o fundador da doutrina social da Igreja há mais de um século, em vez de um predecessor próximo.
A escolha também fala de um espírito independente que muitas pessoas parecem apreciar no novo papa.
Desde os primeiros momentos de seu pontificado, Leão XIV deu ênfase comunicar sua continuidade com o papa Francisco, que fez exatamente o contrário.
O novo papa citou Francisco repetidamente em suas primeiras homilias, falando de uma Igreja sinodal, por exemplo, e fazendo questão de rezar no túmulo de seu antecessor.
Ao mesmo tempo, deu sinais claros de que é dono de si mesmo.
Uma maneira notável de fazer isso foi assumindo todos os sinais do poder papal. Ele usa a mozeta, a capa vermelha que cobre até a metade dos ombros, desde que apareceu pela primeira vez na Varanda das Bênçãos da basílica de São Pedro, no Vaticano. Mais recentemente, começou a usar calças brancas por baixo da batina. Fez isso não como um sinal de oposição ao papa Francisco, que notoriamente usava calças pretas, mas sim para dar força e importância aos sinais e símbolos da Igreja institucional.
Outro sinal de Leão XIV veio em sua homilia de 1º de junho, por ocasião do Jubileu das Famílias, das Crianças, dos Avós e dos Idosos, quando citou a encíclica Humanae vitae do papa são Paulo VI dizendo que “o casamento não é um ideal, mas a regra do verdadeiro amor entre o homem e a mulher; amor total, fiel, fecundo. Esse amor vos torna uma só carne e vos capacita, à imagem de Deus, a conceder o dom da vida”.
Em sua simplicidade, essas palavras marcam uma mudança de direção em relação ao pontificado anterior, já que na contestada exortação pós-sinodal de Francisco, Amoris laetitia, o matrimônio cristão era repetidamente citado como um ideal a ser atingido.
Assim como Francisco, Leão XIV reconhece a necessidade de ir às periferias. No entanto, como missionário no Peru, ele já destacou o trabalho evangelizador que deve ser feito ali.
Na missa pro Ecclesia, sua primeira missa como papa, celebrada com o Colégio Cardinalício na Capela Sistina em 9 de maio, Leão XIV disse que “hoje não faltam contextos em que a fé cristã é considerada uma coisa absurda, para pessoas fracas e pouco inteligentes; contextos nos quais em vez dela preferem-se outras seguranças, como a tecnologia, o dinheiro, o sucesso, o poder e o prazer”.
O papa reafirmou o compromisso da missão nesses lugares, porque “a falta de fé, muitas vezes, traz consigo dramas como a perda do sentido da vida, o esquecimento da misericórdia, a violação – sob as mais dramáticas formas – da dignidade da pessoa, a crise da família e tantas outras feridas das quais a nossa sociedade sofre”.
Para Leão XIV, a missão está ancorada na verdade da mensagem cristã. Em 16 de maio, reunindo-se pela primeira vez com os membros do corpo diplomático acreditado junto à Santa Sé, ele colocou a verdade, junto com a paz e a justiça, como pilares do compromisso diplomático da Santa Sé.
“A Igreja nunca se pode furtar a dizer a verdade sobre o homem e sobre o mundo, mesmo recorrendo, quando necessário, a uma linguagem franca, que pode provocar alguma incompreensão inicial”, disse o papa.
Embora se possa sentir uma mudança de paradigma no foco do papa Francisco em evangelizar falando a linguagem do mundo, Leão XIV não demonstra qualquer oposição ao seu antecessor. Este não é um pontificado contra ou a favor de algo, mas sim de missão.
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A linha da governança
A continuidade focada na missão também ressalta sua abordagem inicial à governança.
Por enquanto, ele manteve os compromissos já estabelecidos no pontificado anterior, como a nomeação de Francisco de Tiziana Merletti, freira das Irmãs Franciscana dos Pobres, como secretária do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica.
A saída do Arcebispo Vincenzo Paglia da Pontifícia Academia para a Vida e de seu cargo de chanceler do Pontifício Instituto Teológico João Paulo II para Estudos sobre Matrimônio e Família era esperada, visto que ele havia completado 80 anos de idade. Leão XIV confiou a chancelaria do instituto ao cardeal Baldassarre Reina, vigário do papa para a diocese de Roma e, também, chanceler da Pontifícia Universidade Lateranense, prefigurando uma união entre o instituto e a universidade. Ele também confirmou Philippe Bordeyne, reitor do instituto, por mais quatro anos. Na Pontifícia Academia para a Vida, Leão XIV também escolheu a continuidade, promovendo o chanceler, monsenhor Renzo Pegoraro.
No entanto, uma mudança geracional está chegando. Além de ter que escolher seu próprio sucessor no Dicastério para os Bispos, ele terá que substituir os prefeitos das Causas dos Santos, Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos; Promoção da Unidade dos Cristãos; Desenvolvimento Humano Integral; Leigos, Família e Vida — todos eles já passaram da idade de aposentadoria de 75 anos.
Qualquer papa, no entanto, agirá segundo suas prioridades. Ao montar sua própria equipe, Leão XIV deve enfrentar a necessidade de introduzir um modus operandi governamental na Igreja para tratar de alguns dossiês complexos, particularmente sobre o acordo entre China e Santa Sé. A próxima rodada de reuniões sobre esse tema estava prevista para ocorrer já na próxima semana.
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Sabemos, pelo histórico de liderança de Leão XIV como chefe dos agostinianos, bispo e prefeito, que ele prefere estabelecer uma governança estruturada e baseada em prioridades, em vez de microgestão ou mudanças radicais no início. Ele intervirá quando julgar apropriado, como já fez saber àqueles que, como sempre acontece no início de um pontificado, apareceram à sua porta para apresentar alguns pedidos.
Ele não tomará decisões para ser popular; ele não tomará decisões precipitadas.
O futuro da Igreja
Ao ordenar 11 padres para a diocese de Roma em 31 de maio, Leão XIV pediu por “vidas que sejam conhecidas, vidas que sejam legíveis, vidas credíveis!”
“Estamos no meio do povo de Deus para podermos estar diante dele, com um testemunho crível. Juntos, então, reconstruiremos a credibilidade de uma Igreja ferida, enviada a uma humanidade ferida, dentro de uma criação ferida”, disse também o papa.
Assim, Leão XIV não apontou o dedo para os padres infiéis, mas pediu a todos que fossem fiéis. Nisso também podemos reconhecer seu modus operandi para governar a Igreja. Primeiro, a fé, depois a infraestrutura, seja litúrgica, histórica ou social. Leão XIV pode fazer isso precisamente porque é o papa de uma nova geração.
O papa Bento XVI disse, no livro-entrevista Sal da Terra com Peter Seewald, que ele ainda era um homem do velho mundo, mas o novo mundo ainda não havia começado.
Isso começou com este papa. Ele é um papa de três mundos: americano, missionário na América Latina e profundo conhecedor da realidade romana.
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