A procuradora-geral do Peru, Patricia Benavides, anunciou
nesta segunda-feira (27) que denunciou no Congresso a presidente do país, Dina
Boluarte, e o primeiro-ministro, Alberto Otárola, por mortes ocorridas em uma
onda de protestos contra o governo, em resposta a uma investigação aberta
contra ela por supostamente montar uma rede criminosa no Ministério Público.
“Informo que apresentei uma denúncia constitucional perante
o Congresso da República contra Dina Boluarte e Luis Alberto Otárola”, disse
ela em um comunicado, no qual alegou que a investigação da qual é alvo tem o
propósito de intimidá-la para que não continue sua “luta contra a impunidade”.
Outros denunciados por Benavides são os três ex-ministros do
Interior que ocuparam a pasta durante a onda de protestos, César Cervanes,
Víctor Rojas e Vicente Romero. Os cinco são acusados de supostamente terem
cometido o crime de homicídio agravado.
Investigação sobre procuradora
A operação Valquiria V foi realizada nesta segunda-feira
pela Equipe Especial de Promotores contra a corrupção no poder (Eficcop), que
acusa Benavides de ser a chefe de uma rede criminosa de tráfico de influência.
Como parte dessa operação, Jaime Villanueva, que até ontem
era o gerente central do Escritório da Procuradoria, foi detido.
Em seu comunicado, Benavides disse que essa investigação é “um
ataque premeditado” por aqueles que se opõem ao seu trabalho.
“Nesta manhã, o Ministério Público foi alvo de um ataque
premeditado por parte daqueles que se opõem ao trabalho que a lei nos incumbe:
combater a impunidade e a corrupção orquestrada nos mais altos níveis de poder”,
escreveu ela.
A procuradora alegou que a instituição que ela dirige está
encarregada de casos da mais alta relevância contra pessoas que tentarão usar
seu poder para “obstruir a Justiça”.
“As últimas horas são uma demonstração daqueles que não
querem ser investigados e ainda têm a capacidade de retaliar a instituição que
represento. Com esse ato desastrado que busca desestabilizar a independência e
a autonomia do Ministério Público, usando para esse fim desprezível o mecanismo
de uso de alguns promotores”, disse.
Ela também anunciou que continuará investigando os
responsáveis pelas “mortes trágicas que ocorreram entre dezembro de 2022 e
março de 2023” nos protestos, bem como outros “casos emblemáticos”.
Em 24 de outubro, o Ministério Público prorrogou a
investigação sobre as mortes nos protestos por mais oito meses.
Por esse caso, Boluarte havia prestado depoimento à
Procuradoria-Geral em 27 de setembro, quando ratificou as explicações que já
havia dado em junho sobre as mortes ocorridas durante as manifestações antigovernamentais
que ocorreram de dezembro a março do ano passado em seu país e pediu o
encerramento da investigação contra ela.
A presidente foi convocada como parte da investigação
preliminar aberta sobre a atuação dela e de outros membros de seu governo por supostamente
terem cometido crimes de genocídio, homicídio agravado e abuso de autoridade,
após a morte de 77 pessoas nas manifestações, 49 delas em confrontos diretos
com as forças de segurança.
Boluarte chama acusação de “manobra política desprezível”
Dina Boluarte disse nesta segunda-feira que a denúncia
apresentada contra ela é uma “manobra política desprezível” com o objetivo de “distrair
a atenção” do público.
Boluarte afirmou em pronunciamento no Palácio do Governo, em
Lima, que Benavides “tem que responder às autoridades correspondentes de forma
clara e precisa” na investigação aberta pela unidade anticorrupção da
Procuradoria-Geral.
A presidente peruana disse achar “estranho” que a denúncia
contra ela “tenha sido apresentada depois que o público tomou conhecimento das
operações e prisões da equipe do Ministério Público por supostos atos de
corrupção”.
Ela acrescentou que na última sexta-feira foi notificada
pela procuradora sobre a ampliação do período da investigação do caso da morte
de manifestantes por oito meses, mas que hoje a denúncia contra ela foi
formalizada, após o início de outro processo contra a própria Benavides.
“Isso é suspeito e grave”, alegou Boluarte, que lembrou que
também hoje dois procuradores exigiram a renúncia do chefe do Ministério
Público.
Ele pediu às autoridades políticas e jurisdicionais do país que “defendam o Estado de Direito, a estabilidade econômica e os direitos fundamentais de 33 milhões de peruanos”.
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