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Boom migratório vira obstáculo para plano de reeleição de Sunak

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O número de imigrantes no Reino Unido atingiu níveis recordes no ano passado, sendo estimado em 745 mil, de acordo com dados oficiais divulgados pelo Escritório de Estatísticas Nacionais (ONS, na sigla em inglês).

Ao todo, cerca de 672 mil pessoas chegaram ao país no período de julho de 2022 a junho deste ano, um decréscimo em relação ao ano-calendário de 2022, mas um número quase cinco vezes maior do que o esperado pelo governo, de 140 mil.

Segundo o ONS, a maioria das pessoas que chegaram ao país é formada por cidadãos de fora da União Europeia, sendo a busca por trabalho o principal motivo para a migração. No relatório publicado, o escritório afirma que muitos desses estrangeiros chegam ao Reino Unido para suprir a escassez nos setores de saúde e assistência social. As três principais nacionalidades deles são indiana, nigeriana e chinesa.

Cerca de 88 mil pessoas que migraram no último ano receberam asilo, um aumento em relação às 73 mil registradas até junho de 2022. Assim como aconteceu na Alemanha, milhares de refugiados chegaram ao Reino Unido por rotas humanitárias de países como a Ucrânia, que enfrenta uma guerra desde fevereiro de 2022.

A situação se tornou uma dor de cabeça para o conservador Rishi Sunak desde que ele assumiu como primeiro-ministro britânico, em outubro do ano passado, visto que umas das promessas de sua campanha foi o controle migratório.

Um dos planos mais emblemáticos do líder do Partido Conservador é o Bibby Stockholm, uma espécie de prisão flutuante projetada pelo Reino Unido para combater a imigração ilegal, que começou a funcionar em agosto.

A última tentativa do governo britânico de amenizar a situação migratória ocorreu neste mês, quando Sunak apresentou um plano de enviar requerentes de asilo vindos principalmente de travessias pelo Canal da Mancha para Ruanda.

No entanto, a medida foi considerada ilegal pela Suprema Corte, que justificou a rejeição pelo “risco real” desses imigrantes serem enviados de volta ao seu país de origem, independentemente do pedido de asilo ser justificado ou não, violando assim leis internacionais de direitos humanos.

Os conservadores também apelaram repetidamente ao Judiciário para suspender vistos temporários para imigrantes, numa tentativa de limitar o número que chega ao Reino Unido a 20 mil. A iniciativa busca garantir um respiro à crise migratória para as eleições do próximo ano, nas quais Sunak surge como candidato à continuidade no poder.

O governo britânico foi alvo de duras críticas da oposição e dos aliados pela atual crise enfrentada no país. Os próprios conservadores atacaram os números divulgados, defendendo que “tal situação é insustentável tanto econômica quanto socialmente”.

O deputado correligionário de Sunak Jonathan Gullis considerou os números “completamente inaceitáveis para a maioria do povo britânico”, sugerindo que era necessária uma “ação drástica” para conter a crise, segundo se manifestou na rede social X.

Em meio às críticas e pressões políticas, o secretário do Interior britânico, James Cleverly, afirmou que ele e seu gabinete estão trabalhando com todo o governo para alcançar “novas medidas para prevenir a exploração e manipulação do sistema de vistos, incluindo a repressão daqueles que tiram vantagem da flexibilidade do sistema de imigração”.

Além das pessoas que chegam de forma ilegal ao país, os níveis de migração legal também têm aumentado com o passar dos anos. Com isso, o premiê também prometeu reduzir o número de pessoas que entram legalmente no Reino Unido, uma vez que a questão virou frente de discussão entre os eleitores, que pressionam o governo sobre o fornecimento de serviços públicos e o déficit de moradia.

Há anos que a crise migratória virou um problema para o governo britânico. Quando Sunak assumiu como premiê, em outubro do ano passado, no lugar de Liz Truss (que havia substituído pouco antes Boris Johnson), a situação já se agravava, com mais de 600 mil pessoas pedindo asilo.

Uma explicação pode estar relacionada à saída do Reino Unido da União Europeia, completada em janeiro de 2020. No ano seguinte, o Reino Unido implementou um novo programa de imigração, que prioriza “habilidades e talentos em detrimento da origem de uma pessoa”.

Nesse período, segundo um levantamento do jornal britânico The Guardian, as grandes indústrias intensificaram o recrutamento de trabalhadores de fora da UE, visto que antes do Brexit os cidadãos do bloco eram priorizados na hora da emissão de vistos de trabalho.

FONTE: Gazeta do Povo