A
meta de gastar pelo menos 2% do Produto Interno Bruto (PIB) em defesa é uma das
principais diretrizes que os países membros da Organização do Tratado do
Atlântico Norte (OTAN), a aliança militar ocidental que reúne 31 nações, se
comprometeram a seguir desde 2014.
No
entanto, nem todos esses países membros têm se esforçado o suficiente para cumprir
com essa meta, o que acabou gerando críticas e cobranças por parte de políticos
republicanos dos Estados Unidos, um dos países que mais contribuem para a
organização.
Em
um comício realizado na Carolina do Sul no último dia 10, o ex-presidente americano
Donald Trump (2017-2021), que atualmente está concorrendo nas primárias do
Partido Republicano para ser candidato à presidência nas eleições de novembro,
causou uma “polêmica” ao o dizer que não protegeria seus aliados europeus da
OTAN de um eventual ataque russo caso eles não estivessem gastando o suficiente
com a própria defesa, ou seja, os 2% do PIB.
Segundo
informações da agência Reuters, Trump relatou neste comício uma conversa
que teve com um “presidente de um grande país”, que ao que tudo indica seria membro
da organização, que supostamente teria lhe perguntado se os EUA, sob seu
comando, defenderiam sua nação se ela fosse atacada pela Rússia.
Trump afirmou ter respondido que não protegeria um país inadimplente em suas contribuições com defesa e que, na verdade, encorajaria a Rússia a agir livremente.
“Eu
disse: ‘Você não pagou? Você está inadimplente?’ Ele disse: ‘Sim, vamos supor
que isso aconteceu’. Não, eu não protegeria você. Na verdade, eu os
incentivaria a fazerem o que quiserem”, disse o ex-presidente americano
referindo-se à Rússia.
As
declarações de Trump reacenderam o debate mundial sobre o investimento dos
países da OTAN em defesa, que até tem se intensificado desde a invasão russa à
Ucrânia em 2022.
A
guerra no solo ucraniano acabou colocando em xeque a segurança e a estabilidade
da Europa e a aliança ocidental tem tentado apoiar ativamente as forças
ucranianas em sua batalha contra a agressão do país de Vladimir Putin.
Além disso, a OTAN, em uma demonstração de força, tem realizado operações e exercícios militares para reforçar sua presença no continente europeu.
2024 poderá ser diferente
Quatro dias após as críticas do republicano, Jens Stoltenberg, secretário-geral da OTAN, anunciou que sua expectativa para este ano de 2024 é de que cerca de 18 países membros da aliança alcancem a meta de investimentos de 2% do PIB em gastos com defesa.
“Este ano,
espero que 18 aliados gastem 2% do PIB em defesa. Se trata de outra cifra
recorde e seis vezes maior que em 2014, quando somente três aliados cumpriram
com o objetivo”, disse ele.
Na
ocasião, Stoltenberg elogiou o “aumento sem precedentes” nos gastos com defesa
dos aliados europeus e canadenses, que, segundo ele, adicionaram mais de US$
600 bilhões em seus investimentos em defesa, incluindo um aumento real de 11%
nos gastos com setor somente em 2023, visando cumprir o acordo de investimento
em defesa estabelecido em 2014.
“Estamos
fazendo um progresso real. Os aliados europeus estão gastando mais. No entanto,
alguns aliados ainda têm um caminho a percorrer”, disse Stoltenberg, que se
reuniu com os ministros da defesa da OTAN em Bruxelas neste mês para discutir o
apoio à Ucrânia e os próprios compromissos de gastos com defesa.
A
meta de investir pelo menos 2% de seu PIB para gastos em defesa foi formalizada
pelos países membros da OTAN durante a cúpula da aliança realizada no País de
Gales em 2014. Esta medida, anteriormente seguida apenas como uma recomendação
informal, representou naquele momento um marco significativo nas políticas de
segurança e defesa da organização. A ideia era que todos os membros
conseguissem investir a porcentagem determinada até este ano de 2024.
No
entanto, até o momento, entre os países da organização que estavam contribuindo
abaixo de 2% no último ano, apenas a Alemanha anunciou oficialmente que
conseguirá investir a meta acordada em 2014. Pela primeira vez desde a década
de 1990, o país europeu investirá 2% de seu PIB em defesa, anunciou o porta-voz
do ministério da Defesa alemão. Ironicamente, o anúncio dos alemães ocorreu
justamente dias após as críticas de Trump sobre a “inadimplência” dos membros.
Quais países da OTAN estão gastando atualmente o que devem com defesa?
Segundo dados oficiais divulgados pela OTAN em 2023 (ainda não há informações oficiais sobre 2024), apenas 11 dos 31 países membros se esforçaram o suficiente no último ano para atingir ou superar a meta de 2% do PIB em gastos militares. A lista inclui os Estados Unidos, o Reino Unido, a Polônia (que dobrou seus gastos com defesa por causa da ameaça da Rússia), a Grécia, a Romênia, a Hungria, a Eslováquia, a Estônia, a Letônia, a Lituânia e o novo membro da organização, a Finlândia.
Nota-se
que a maior parte dos países que se esforçaram para investir a meta acordada em
2014 fazem parte do leste europeu, região que atualmente vive sob tensão e que
teme as ameaças militares da Rússia, algo que se tornou uma possibilidade real
após a invasão do país de Putin na Ucrânia.
Por
outro lado, países maiores e mais ricos da OTAN ficaram abaixo da meta, muitas
vezes por uma grande margem, como a própria Alemanha, o Canadá, a Itália e a
Espanha. Apesar de já terem anunciado que alcançarão a meta de investimentos em
defesa neste ano, os alemães investiram apenas 1,57% do seu PIB em defesa em
2023, enquanto o Canadá investiu 1,38%, a Itália 1,46% e a Espanha 1,26%.
O
gráfico abaixo mostra o percentual do PIB que cada país membro da OTAN investiu
em defesa em 2014, quando a meta foi estabelecida, e em 2023, o último ano com
dados disponíveis. Ele também destaca os países que alcançaram a meta de investimento
de 2%.
Governo Biden elogia anúncio de Stoltenberg
Elogiando
a expectativa de Stoltenberg – de que 18 países alcançarão a meta de investimento
em defesa neste ano -, o atual secretário de defesa dos EUA, Lloyd Austin,
disse que “a OTAN é a aliança militar mais forte da história e é crucial para a
segurança contínua dos Estados Unidos”.
Austin
também disse que os EUA e seus aliados e parceiros continuarão apoiando a
Ucrânia “por muito tempo” e reafirmou o compromisso americano com o Artigo 5 da
OTAN, que estipula que qualquer ataque a qualquer um dos países membros é
efetivamente um ataque contra todos eles, independentemente de estarem investindo
ou não 2% do PIB em defesa.
“Nosso compromisso com o Artigo 5 permanece inabalável”, esclareceu o secretário da pasta que integra o atual governo democrata de Joe Biden.
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