O regime chavista, comandado pelo ditador Nicolás Maduro, não acumula impopularidade somente entre a oposição e os meios de comunicação independentes, fortemente perseguidos conforme se aproximam as eleições presidenciais de fachada no país, marcadas para 28 de julho.
No poder desde 2013, o líder autoritário de Caracas também reprimiu com mão de ferro antigos aliados da esquerda e movimentos trabalhistas.
O caso mais emblemático nesse sentido aconteceu com o Partido Comunista da Venezuela (PCV), forte apoiador do regime de Hugo Chávez (1999-2013), mas que se afastou de seu sucessor nos últimos anos, devido à ataques da ditadura contra a organização partidária. Em agosto do ano passado, essa tensão se tornou mais evidente, quando a Suprema Corte venezuelana, controlada por Maduro, desfez a antiga junta diretora partidária e nomeou uma nova baseada nas ambições do chavismo.
Naquela ocasião, o secretário-geral do PCV, Oscar Figuera, afirmou à imprensa que o escolhido por Maduro para presidir a formação partidária, Henry Parra, sequer estava registrado como militante comunista, considerando a medida uma “fraude processual”.
Essa intervenção do regime contra o antigo aliado também tem relação com diferenças políticas. Em 2008, Chávez criou uma espécie de “cúpula” que liderava o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), fundado pelo falecido ditador, com o objetivo de reunir em um único grupo todos os partidos que apoiavam seu governo. Contudo, naquela época, o PCV se manteve autônomo, mesmo que continuasse apoiando o chavismo.
Em Janeiro, o partido voltou a denunciar tentativas de desarticulação por parte do regime, alegando que a ditadura procurava expulsar seu único legislador da Assembleia Nacional.
Tal como outros partidos de esquerda que outrora apoiaram o chavismo, as relações do PCV com o regime de Maduro começaram a estremecer em 2010, época em que a economia da Venezuela entrou em colapso e houve cortes nos programas sociais, nos direitos trabalhistas e nos serviços públicos.
Desde 2022, o PCV tem apoiado protestos de trabalhadores, principalmente professores, que reivindicam melhores condições laborais. De acordo com o Observatório Venezuelano de Conflitos Sociais, uma ONG sediada em Caracas, as manifestações envolvendo professores cresceram em 2023. Em julho, um sindicalista afiliado ao partido foi preso por participar do movimento.
Apesar de ser a principal figura alvo de perseguição de Maduro, o PCV não é o único caso nesse sentido. Em 2020, a Corte Suprema venezuelana também em outros partidos esquerdistas, como o Pátria Para Todos (PPT) que, assim como o PCV, era aliado de Chávez, o de centro-esquerda Ação Democrática (AD), o Vontade Popular (VP) e o Primeiro Justiça (PJ). A Cruz Vermelha Venezuelana, que atua no fornecimento de ajuda humanitária no país, também foi alvo de mudanças estruturais pelo regime, que busca aumentar a fiscalização sobre ONGs.
Esse tipo de perseguição política, até mesmo contra antigos aliados, mostra que o ditador Maduro se preocupa com qualquer tipo de ideia que possa interferir na sua continuidade no cargo, pensamento típico de lideranças autoritárias focadas em apenas perpetuar seus poderes.
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