O chefe da Comissão de Arbitragem da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Wilson Luiz Seneme, concedeu entrevista exclusiva ao SportsCenter, nesta quarta-feira (8), com transmissão pela ESPN no Star+, e falou sobre diversos temas importantes em relação à atuação dos juízes no Campeonato Brasileiro.
Na conversa com a ESPN, Seneme admitiu que acontecerem alguns erros claros nas primeiras rodadas da Série A, mas classificou a arbitragem como “boa” no geral até agora.
“Estamos na 5ª rodada. São aproximadamente 50 jogos, um pouco menos devido ao cancelamento de alguns, e, desses 45 jogos, houve três ou quatro que saíram da normalidade”, apontou.
“(Nesses jogos) As decisões dos árbitros não foram da maneira que a gente esperava que eles tivessem. Mas posso considerar que é uma arbitragem boa (no geral)”, salientou.
O dirigente comparou os erros de arbitragem ao “frango” de um goleiro e argumentou que os equívocos são “esporádicos”.
“Erros esporádicos fazem parte do esporte, assim como o jogador que arma o contra-ataque, um goleiro que toma um frango, um treinador que faz uma má substituição. O erro do árbitro também é um erro esportivo”, apontou.
Questionado sobre supostas intervenções externas no VAR na hora dos árbitros de vídeo tomarem decisões, Seneme garantiu que não existe comunicação com a cabine em nenhum momento.
“Ninguém pode falar com os árbitros durante o jogo. […] Não posso responder de outras épocas, que talvez o WhatsApp funcionasse. Hoje, eu garanto que não funciona”, afirmou.
O cartola, todavia, admitiu que o VAR está demorando muito para tomar decisões, o que causa incômodo inclusive na alta cúpula da arbitragem brasileira.
“Estamos trabalhando para melhorar esses tempos. Tenho estatísticas que posso mostrar que esses tempos já diminuíram. É um foco, um problema, algo que a gente precisa trabalhar. Eu mesmo quando estou assistindo digo ‘não estou entendendo porque está demorando tanto’. A gente vai trabalhar para diminuir esse tempo de checagem”, disse.
Por fim, Seneme ainda falou sobre as fortes acusações de manipulação de arbitragem feitos por John Textor, dono da SAF do Botafogo, na CPI em Brasília.
O chefe da Comissão de Arbitragem disparou que não vai dar “vitrine” para o empresário norte-americano e relatou que irá à Capital Federal em breve para prestar depoimento aos senadores.
“Há muita manifestação quanto a isso [falas de Textor]. Sou uma pessoa convidada e estarei no dia 16 na CPI do Senado, vou prestar todos os esclarecimentos e tudo que eu posso falar sobre a arbitragem brasileira. Não vou ficar dando vitrine para coisas que não têm base e nem referência”, finalizou.
Principais trechos da entrevista de Seneme à ESPN:
“3 ou 4 jogos fora da normalidade”
Estamos na 5ª rodada, são aproximadamente 50 jogos, um pouco menos devido ao cancelamento de alguns, e desses 45 jogos houve três ou quatro que saíram da normalidade. As decisões dos árbitros não foram da maneira que a gente esperava que eles tivessem. Se foi uma jogada, então posso considerar que é uma arbitragem boa. A gente tem renovado o quadro. Em cinco rodadas, foram escalados seis árbitros novos. Se em cinco rodadas você estreia seis árbitros, é porque foram preparados ao longo do ano passado. Os jogos que tivemos problemas foram com os árbitros mais experientes. Não gosto de falar de coisas específicas e citar nomes de pessoas e clubes, mas o que preocupa é que erros esporádicos fazem parte do esporte, assim como o jogador que arma o contra-ataque, um goleiro que toma um frango, um treinador que faz uma má substituição. O erro do árbitro também é um erro esportivo. Agora, dar uma conotação desse erro ser premeditado, é o que nos preocupa e que queremos cortar para não levar o futebol brasileiro ao buraco profundo. Até hoje o Ministério Público de Goiás não encontrou evidência com nenhum árbitro. Preocupação existe com todos os segmentos, dos dirigentes, dos jornalistas, dos árbitros. O que a gente espera é que as pessoas tenham responsabilidade pelo que falam.
Falas de John Textor
Há muita manifestação quanto a isso. Sou uma pessoa convidada e estarei no dia 16 na CPI do Senado, vou prestar todos os esclarecimentos e tudo que eu posso falar sobre a arbitragem brasileira. Não vou ficar dando vitrine para coisas que não têm base e nem referência.
Afastamento de árbitros
Nenhum árbitro foi afastado. Eu não afastei nenhum árbitro. O que existe é o bom jogador que joga bem e é mantido no time, e o jogador que não está bem e vai para o banco de reservas. Isso também acontece com os árbitros. Senão ele volta a mesma pessoa. Antes não havia preparação do árbitro para ele voltar melhor. Ninguém vai acabar com a carreira de um árbitro porque ele cometeu um erro. E para isso existe um programa para a gente observar o árbitro e retornar aos gramados no melhor momento. Eu joguei futebol durante 10 anos e foi árbitro durante 20 anos. Trabalho como gestor há 10 anos. Aprendi que uma pessoa que não sabe trabalhar com arbitragem e não lida com pressão está no ambiente errado.
Existe interferência externa no VAR?
Ninguém pode falar com os árbitros durante o jogo. Existe uma comissão de clubes brasileiros, composta por membros das séries A, B, C e D. E estamos convidando essa comissão para que fique observando a cabine do VAR e vendo o trabalho que eles realizam. É um convite para que vejam como funciona o trabalho. Não posso responder de outras épocas, que talvez o WhatsApp funcionasse. Hoje, eu garanto que não funciona.
Demora para árbitros tomarem decisões no VAR
Estamos trabalhando para melhorar esses tempos. Tenho estatísticas que posso mostrar que esses tempos já diminuíram. É um foco, um problema, algo que a gente precisa trabalhar. Eu mesmo quando estou assistindo digo ‘não estou entendendo porque está demorando tanto’. A gente vai trabalhar para diminuir esse tempo de checagem.
Erros de arbitragem no Brasileirão
Não posso vir aqui e não assumir que não houve erros de arbitragem em alguns jogos, dentre os quase 50 que a gente fez.
Profissionalização dos árbitros no Brasil
Não é 2013, não, eu trabalho como árbitro de futebol desde 1998 e é um sonho da arbitragem de ser profissional. A minha chegada em 2022 está dentro de um projeto para ao longo prazo os árbitros se tornarem profissionais. É o futuro, para a classe ser respeitada e treinar. Qual a diferença entre o jogador profissional e o amador? É o treinamento que ele faz. Mas isso não pode ser transformado em algo da CBF, mas sim algo do futebol. Os clubes têm que ser incluídos, as federações estaduais também, o governo para determinar as leis e regras para isso. Espero que isso avance e a gente possa num futuro próximo ter uma parcela dos árbitros profissionais ou toda a classe.
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